quarta-feira, 25 de abril de 2012

Lutadora


Me pergunto por que ainda não desisti. Seria muito mais fácil e simples.
Afinal, eu sei, todos sabem, é uma causa perdida. Porém ninguém deixa de
dar-me esperanças, pois têm pena. Medo de me despedaçar. Aprecio isso.
Uma boa lutadora sempre precisa de sua torcida.
Não existe motivo para continuar a lutar, mas não consigo parar de lutar.
Mesmo estando em frangalhos, nunca deixei o campo de batalha. Será
instinto? Será estupidez?
Creio que seja a segunda opção.
Estúpida e teimosa. Não é uma boa combinação.
Lutar.
Para perder.
Que situação patética.
Vê? Sei que minha situação é sem salvação.
Já disse inúmeras vezes: Chega. Eu desisto!
O problema é que nunca me escuto. Ou me esqueço do que disse.
Surda e com memória fraca. Coisa boa não vai dar.
Também pensei em fugir, mas... Não deu muito certo. Porque eu não consigo
fugir de uma boa luta.
No momento, minha derrota está clara, mas se continuar lutando e lutando,
nunca terminará. Então nunca perderei.

Ou talvez, quem sabe, eu vire esse jogo...



quarta-feira, 18 de abril de 2012

Sincero ao Extremo


- Está atrasada. – foi o que ele disse quando virei a esquina e cheguei na
minúscula praça onde sempre nos encontrávamos, com cara de bravo.
- O que? Virou inglês agora? – parei a frente dele e me apoiei nos joelhos.
- Não. Só acho educado as pessoas marcarem um horário e não chegarem
com uma hora de atraso. – então ele sentou no bando e cruzou os braços,
ainda com as sobrancelhas franzidas.
- Eu tive os meus motivos, ok? E também, aposto que você estava fazendo
fotossíntese em casa! – me sentei ao seu lado tentando tirar aquela
carranca do seu rosto.
- Claro que estava! Afinal eu não sou lá muito sociável. Então o acha que eu
faço num sábado a noite? Nada!!! – disse isso sem um pingo de vergonha na
cara. Sinceridade. Sempre.
- Desculpe. – eu disse estupidamente triste comigo mesma. Então deixei
pender o pescoço para trás e fiquei observando o céu estrelado.
- Por que não atendeu o celular? – droga! Achei que ele não ia perguntar.
- Eu... meio que... esqueci ele em casa.
De repente ele me deu um peteleco na testa e reclamou:
- Que tipo de criatura estúpida, de ameba sem cérebro... Sai de casa no
meio da noite e NÃO LEVA O CELULAR???
Com raiva eu ergui a cabeça para olhar para ele e responder aos insultos
com outros ainda melhores então... dei uma cabeçada nele.
Minha reação foi colocar as mãos na testa e vi que ele fez o mesmo. Quando
olhamos um para o outro ambos estavam com olhos cheios de lágrimas,
tamanha a intensidade da dor.
Pela primeira vez na noite rindo, ele disse:
- Não sabia que amebas tinham a cabeça tão dura. – como reação eu
empurrei seu ombro fazendo-o quase cair.
Ambos começamos a rir um do outro. Até que paramos e tudo ficou em
silêncio.
- Não faça mais isso. – ele sussurrou olhando para o outro lado.
- O que? Bater na sua cabeça? – eu disse rindo.
- Não... Não suma assim no meio da noite.
Eu me levantei e fiquei de frente para ele. Acho que vou dar o troco pelos
insultos agora.
- Você estava preocupado não estava?
- Não! – ele disse ligeiro, ao mesmo tempo em que virava o rosto.
Encurralado.
- Sabe, além de você mentir extremamente mal, suas orelhas estão
vermelhas.
- Ah... Eu... – e ele começou a passar a mão nos cabelos, como sempre faz
quando está confuso.
Eu sorri. É bom saber que não sou a única nessa barca.
Reuni todo a minha coragem, e me sentei bem perto dele.
Mãos suadas: Confere.
Coração Acelerado: Confere.
Estômago revirado: Confere.
- Então... Por que me chamou aqui? – ele parecia normal agora. Talvez eu
esteja errada. Talvez seja mesmo unilateral.
Porém, não dá pra voltar atrás agora.
- Eu... Você... – ele estava olhando tanto pra mim! – Feche os olhos!
- Que???
- Feche de uma vez!!
Então ele fez uma careta e obedeceu.
Segurei as suas mãos para tentar ganhar mais coragem.
- Você não vai fazer nenhuma macumba, vai?
- Cale a boca!
- Não era pra eu fechar os olhos?
- FAÇA OS DOIS!!!
Ele deu uma gargalhada e, de olhos fechados, se calou.
Fechei meus olhos e pronunciei, sem emitir som algum: “Sou apaixonada por
você, idiota.”
- Ei! Eu não sou idiota!
Dei um pulo pra trás e coloquei as mãos na boca. E AGORA???
- Vo-você espiou!!!!
- Desculpe, homens não conseguem fazer duas coisas ao mesmo tempo. A
ciência já provou!
Quero um buraco negro. Agora.
Me levantei depressa e fui praticamente correndo pra longe dele. Até que
ele gritou:
- Não quer saber minha resposta?
- Promete que não vai mentir?
- Sinceridade. Sempre. – Ele disse com a mão direita erguida, como num
juramento.
- Então... pode dizer.
- Eu não estou apaixonado por você.
A estaca que perfurou meu coração provocou tanta dor que pensei que meus
joelhos fossem ceder e podia sentir as primeiras lágrimas correndo pelo
meu rosto. Mas foi o que eu pedi. Sinceridade. Sempre.
- Obrigada pela verdade. – já do outro lado da rua eu disse.
Só para depois ouvi-lo berrar para todo o bairro:
- NA VERDADE, EU TE AMO!!!
Então meus joelhos cederam e eu não conseguia mais enxergar de tantas
lágrimas. No entanto, não conseguia parar de sorrir. Enquanto isso ele
tentava parar meu choro e ria pra mim.
Eu devia saber. Afinal, ele sempre foi sincero. Sincero ao extremo.



segunda-feira, 2 de abril de 2012

A Fera


Eu nunca tive a intenção de continuar com isso, nunca quis alimentar essa
coisa doentia, pensei que se a ignorasse ela iria desaparecer. O que não
percebi foi que não dependia de mim. A sobrevivência “daquilo” nunca
dependeu de mim. Foi sempre de você.
Sua presença foi alimentando a Fera, fazendo-a mais forte e resistente até
que, sem perceber, eu estava sendo controlada por ela.
Comecei a procurar por você e esperar por você e a Fera ficou tão forte
que bastava uma menção a você e ela se agitava dentro de mim, ameaçando
rasgar meu peito e bagunçando meu estomago.
Eu juro que tentei lutar contra, mas quanto mais longe de você mais irritada
ela ficava e isso me causava dor, uma dor sufocante que nada fazia passar,
então fui obrigada a ceder.
Hoje sou completamente submissa a fera que vive dentro de mim, a que você
fez nascer e crescer. Admito que já me acostumei a ter essa “coisa” dentro
de mim. Às vezes dói um pouco, quando ela quer mais do que pode ter. Porém
eu aprendi a acalmá-la.
Só te peço que não vá, só peço que continue perto, para que ela não se irrite,
pois se você não estiver perto de mim, se ela não puder estar perto de você,
eu serei inútil. E por ser um mostro, ela vai matar.



A propósito, descobri que ela tem um nome. Amor.