quarta-feira, 18 de abril de 2012
Sincero ao Extremo
- Está atrasada. – foi o que ele disse quando virei a esquina e cheguei na
minúscula praça onde sempre nos encontrávamos, com cara de bravo.
- O que? Virou inglês agora? – parei a frente dele e me apoiei nos joelhos.
- Não. Só acho educado as pessoas marcarem um horário e não chegarem
com uma hora de atraso. – então ele sentou no bando e cruzou os braços,
ainda com as sobrancelhas franzidas.
- Eu tive os meus motivos, ok? E também, aposto que você estava fazendo
fotossíntese em casa! – me sentei ao seu lado tentando tirar aquela
carranca do seu rosto.
- Claro que estava! Afinal eu não sou lá muito sociável. Então o acha que eu
faço num sábado a noite? Nada!!! – disse isso sem um pingo de vergonha na
cara. Sinceridade. Sempre.
- Desculpe. – eu disse estupidamente triste comigo mesma. Então deixei
pender o pescoço para trás e fiquei observando o céu estrelado.
- Por que não atendeu o celular? – droga! Achei que ele não ia perguntar.
- Eu... meio que... esqueci ele em casa.
De repente ele me deu um peteleco na testa e reclamou:
- Que tipo de criatura estúpida, de ameba sem cérebro... Sai de casa no
meio da noite e NÃO LEVA O CELULAR???
Com raiva eu ergui a cabeça para olhar para ele e responder aos insultos
com outros ainda melhores então... dei uma cabeçada nele.
Minha reação foi colocar as mãos na testa e vi que ele fez o mesmo. Quando
olhamos um para o outro ambos estavam com olhos cheios de lágrimas,
tamanha a intensidade da dor.
Pela primeira vez na noite rindo, ele disse:
- Não sabia que amebas tinham a cabeça tão dura. – como reação eu
empurrei seu ombro fazendo-o quase cair.
Ambos começamos a rir um do outro. Até que paramos e tudo ficou em
silêncio.
- Não faça mais isso. – ele sussurrou olhando para o outro lado.
- O que? Bater na sua cabeça? – eu disse rindo.
- Não... Não suma assim no meio da noite.
Eu me levantei e fiquei de frente para ele. Acho que vou dar o troco pelos
insultos agora.
- Você estava preocupado não estava?
- Não! – ele disse ligeiro, ao mesmo tempo em que virava o rosto.
Encurralado.
- Sabe, além de você mentir extremamente mal, suas orelhas estão
vermelhas.
- Ah... Eu... – e ele começou a passar a mão nos cabelos, como sempre faz
quando está confuso.
Eu sorri. É bom saber que não sou a única nessa barca.
Reuni todo a minha coragem, e me sentei bem perto dele.
Mãos suadas: Confere.
Coração Acelerado: Confere.
Estômago revirado: Confere.
- Então... Por que me chamou aqui? – ele parecia normal agora. Talvez eu
esteja errada. Talvez seja mesmo unilateral.
Porém, não dá pra voltar atrás agora.
- Eu... Você... – ele estava olhando tanto pra mim! – Feche os olhos!
- Que???
- Feche de uma vez!!
Então ele fez uma careta e obedeceu.
Segurei as suas mãos para tentar ganhar mais coragem.
- Você não vai fazer nenhuma macumba, vai?
- Cale a boca!
- Não era pra eu fechar os olhos?
- FAÇA OS DOIS!!!
Ele deu uma gargalhada e, de olhos fechados, se calou.
Fechei meus olhos e pronunciei, sem emitir som algum: “Sou apaixonada por
você, idiota.”
- Ei! Eu não sou idiota!
Dei um pulo pra trás e coloquei as mãos na boca. E AGORA???
- Vo-você espiou!!!!
- Desculpe, homens não conseguem fazer duas coisas ao mesmo tempo. A
ciência já provou!
Quero um buraco negro. Agora.
Me levantei depressa e fui praticamente correndo pra longe dele. Até que
ele gritou:
- Não quer saber minha resposta?
- Promete que não vai mentir?
- Sinceridade. Sempre. – Ele disse com a mão direita erguida, como num
juramento.
- Então... pode dizer.
- Eu não estou apaixonado por você.
A estaca que perfurou meu coração provocou tanta dor que pensei que meus
joelhos fossem ceder e podia sentir as primeiras lágrimas correndo pelo
meu rosto. Mas foi o que eu pedi. Sinceridade. Sempre.
- Obrigada pela verdade. – já do outro lado da rua eu disse.
Só para depois ouvi-lo berrar para todo o bairro:
- NA VERDADE, EU TE AMO!!!
Então meus joelhos cederam e eu não conseguia mais enxergar de tantas
lágrimas. No entanto, não conseguia parar de sorrir. Enquanto isso ele
tentava parar meu choro e ria pra mim.
Eu devia saber. Afinal, ele sempre foi sincero. Sincero ao extremo.
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Parabéns flor! ^^
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