sábado, 26 de maio de 2012

Coragem


Naquele momento eu senti que poderia fazer tudo o que eu quisesse. Eu não
hesitarei, farei tudo o que quero fazer. Foi como se houvesse alguém me
empurrando para frente e dizendo no meu ouvido: “Vai! O que está
esperando? Não tem porquê se preocupar, vai dar tudo certo.”
Toda a coragem que eu sempre precisei estava bem ali. E eu me senti
eufórica. Senti vontade de abraçar forte todas as pessoas importantes pra
mim. Senti que precisava gritar pra todos que eu os amava.
E também senti que seria capaz de dizer isso pra você. De finalmente
desfazer o nó colossal que tenho na minha garganta. Naquele momento, se
você estivesse lá, certamente agora o nó já não existiria.
Essa coragem, fez-me querer mostrar para todos a minha verdadeira face,
quero que todos saibam que não sou de ferro, que não sou de gelo, que, na
verdade, sou frágil como vidro e quente como brasa. Eu só construí muros e
barreiras em volta de mim. Não sou equilibrada e mansa como brisa, sou tão
destrutiva quanto um ciclone. O que você vê é a calmaria antes ou depois de
uma tempestade.
Agora estou agarrando essa coragem com toda a minha força. E implorando
que ela permaneça em mim só mais um pouco, só até eu te dizer. Só até eu
desfazer o nó.
Mas dizem que quando você aperta demais, escapole pelo meio dos dedos. E
posso sentir que a coragem está se esvaindo. Por isso, quando você me ver,
as barreiras já vão estar de volta nos seus devidos lugares, eu imagino.
Só que eu quero acreditar que eu ainda tenho uma chance. Espero poder
absorver um pouquinho dessa coragem. Para poder criar uma porta em meus
muros, mesmo que seja temporária. Assim poderei abri-las para as pessoas
certas por tempo suficiente para que da próxima vez, essas pessoas certas
sejam capazes de pular meus muros.
Sei que parece loucura, mas é o que eu quero fazer.
E quer saber? Que se dane se der uma grande merda depois! Se for para
sofrer as conseqüências, que seja por algo que eu fiz e não por aquilo que
deixei de fazer.
Então, por favor, minha sanidade, vá tirar umas férias! E deixe a coragem no
comando.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Jogo


- Morre, morre, morre, morreeeee!!!!! AH VADIA!!!!
- Você não achou que isso iria me deter, achou?
Mesmo sem ver seu rosto eu podia imaginar as caretas que ele estava
fazendo. Sobrancelhas franzidas e lábios rijos.
- Como você ficou tão boa de repente?
- Tudo é questão de motivação.
- Ah é? E qual foi a sua? Ver meu corpo dilacerado?
- Claro que não! Sangue, querido, eu quero ver seu sangue. Poças dele.
Então dei a minha melhor risada maléfica. Porém, baixei minha guarda. E
paguei muito caro por isso.
O desgraçado enfiou uma lança em mim. E tive que aguentar seu deboche.
- De quem é o sangue agora?
- Não conte com os ovos na barriga da galinha, amor.
Meus olhos e minhas mãos já estão doendo. Hora de acabar com isso.
Descruzo as pernas e fico de joelhos.
- Ei, você está minha frente, isso é roubo.
- ESPECIAL!!!!!
De repente, antes que eu pudesse terminar a combinação de botões ele me
agarra por trás e nós dois caímos deitados no tapete.
- NÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOO!!!!!!!
Eu me debato e esperneio até que ele me solta e então começo minha
sucessão de socos e chutes enquanto ele ri e tenta se proteger.
- Seu tosco, idiota! Eu ia conseguir!!! Eu ia te matar!!!
- Ninguém mandou você entrar na minha frente!
Então eu faço beicinho e ambos olhamos para a televisão, para ver dois
personagens ainda em posição de luta, mas quase sem vida.
Como num estalo, nós dois nos esticamos para agarrar o próprio controle e
nos empurramos, rolamos e lutamos apertando botões aleatórios, sem nem
ver. Até que vejo um “YOU WIN” na tela. E que estava atrás das palavras
era... EU!!!
- AHHHH!! Eu te matei!!! Ganhei!!!
Ele continuou em silêncio.
Então percebi o por que. Estava eu deitada em cima dele. Nossos rostos
estavam muito, muito perto. Ele sequer podia se mover. Não tinha reparado pois estava focada na televisão.
Por um momento ficamos estáticos.
De repente a música tema do jogo começou a tocar e toda a tensão do momento passou. Em seguida, sem mais nem menos sofremos um intenso ataque de riso mútuo.
Como fomos acabar daquele jeito?
Quando tudo passou, eu encostei minha cabeça em seu peito e ficamos
desse jeito por muito tempo.
Até que eu me senti constrangida e me sentei depressa, talvez depressa
demais.
Ele se sentou e começou a bagunçar o cabelo. Então, com um sorriso torto,
disse:
- Quer jogar de novo?
- Quero! – sorri e ergui os braços, hesitei por um instante, mas o que eu tinha
perder? Juntei os punhos perto do peito. – Preparado?
Ele me olhou espantado.
- O que está fazendo?
-FIGHT!
E o abracei o mais forte que eu pude.
Durante alguns segundos, que pareceram um milênio ele ficou totalmente paralisado. Eu já estava pronta para realmente dar um golpe de luta nele, na esperança de amenizar os estragos quando inesperadamente, ele me abraçou de volta e sussurrou no meu ouvido:
- Acho que fui completamente derrotado. Vamos jogar uma aventura agora?


terça-feira, 22 de maio de 2012

Retas Paralelas


Nós sempre fomos assim, como linhas paralelas. Seguindo em frente, perto
um do outro, sem nunca nos encontrarmos. Ponto por ponto, assim se forma
uma reta. Passo a passo. Então pensei que se eu, sem querer, desse o ponto
um pouquinho para o lado, afinal eu nunca fui boa com gráficos...
Assim, a reta acabaria virando uma curva e acabaria esbarrando na sua reta.
E causaria uma bagunça, misturando seus pontos, seus passos, com os meus.
Talvez isso acabasse se desenrolando e nossas retas seguiriam paralelas
novamente, mas talvez, só talvez, nossas coordenadas se igualassem e dái,
nossos gráficos seguiriam juntos. Com curvas, retas, voltas, qualquer coisa,
menos paralelas.
Porque é horrível estar tão perto, lado a lado, seguindo juntos sem se
encontrar.