Respire fundo. Respire fundo. Respire fundo. Respire fundo. Respire fundo.
Respire fundo. Respire fundo.
- Então, acho que você está roubando meu oxigênio.
- Desculpe, acho que eu não consigo.
- Ahhhh, nada disso! De hoje não passa. Anda logo. Ele está logo ali.
E então ela me deu um empurrão. E quando olhei para trás ela fez sinal com
as mãos para que eu continuasse em frente.
Respire. Não se esqueça de respirar.
Ok, é só por um pé na frente do outro. Ele está bem ali. Com a mesma
camisa preta e calça jeans de sempre. E com seus fones.
Essa não! Ele vai me odiar se eu interrompê-lo enquanto ele escuta música!!
É, melhor deixar para outro dia mesmo!
Mas quando dou meia volta lá está ela me olhando de braços cruzados. E ela
não está feliz.
Tá. Vamos tentar de novo.
Respire, respire e respire. Um passo, dois, três... Estou a menos de um
metro das costas dele. Mais um passo. Agora basta eu esticar o braço.
Minha sorte que ele esteja de costas para mim e absorto nos seus próprios
devaneios para me notar.
Arrisco esticar meu braço e meus dedos ficam a centímetros dele. Minha
boca está seca, minhas mãos suadas e frias. E acho que, se não estivesse de
fones, ele já teria ouvido meu coração.
Abro a boca, mas nenhum som sai.
Respire, respire, respire.
Não vou parar agora.
Vai ser no três. Isso. No três.
Um... E ele virou para trás.
E eu me perdi. Fui completamente nocauteada por aqueles malditos olhos.
Acho que ficamos nos encarando por alguns segundos, que pareceram
séculos.
Até que ele tirou os fones e perguntou:
- Você está bem?
Mas eu não consegui responder. Em parte porque ele estava muito perto, em
parte porque estava começando a ver uns pontos pretos na minha visão.
Por entre os pontos pretos ele parecia preocupado, mas talvez fosse
impressão minha.
De repente, ele segurou firme meus ombros e ele estava tão quente que meu
coração deu um salto e eu puxei uma enorme quantidade de ar para os meus
pulmões.
Respirar. Eu tinha me esquecido de respirar! Meu Deus, esse cara vai acabar
me matando!
Quando me recupero totalmente, estou sentada num banco próximo, e ele
está sentado também. Foi muita maldade da parte dele ter olhado para mim
de novo logo quando eu estava quase voltando ao normal. Mesmo que tenha
sido para perguntar:
- Você quer que eu te leve ao hospital?
Ah claro! Assim vou ter diagnóstico médico de que estou com paixonite
aguda!
- Ah... Não...Eu...Ah... – então eu fiz um demente joinha para indicar que eu
estava bem.
- Você ainda está pálida. Faz tempo que você comeu? Espere aqui. Vou
comprar alguma coisa.
Não, não faça isso. Não seja bonzinho. Não roube o pouco de sanidade que
me resta!
Ok, pelo menos, já que ele foi posso me recompor.
Respire fundo. Respire fundo. Respire fundo. Respire fundo.
E lá vem ele. Com sorvete.
- Foi a comida mais próxima que eu achei. – ele disse me entregando um
sorvete. – Então, você está melhor? Pareceu que você tinha perdido o ar ali
atrás. Isso acontece sempre?
Quando você está perto, com muita freqüência.
- Ah, eu tenho... Asma! – eu disse tentando me esconder atrás da minha
casquinha de chocolate.
- Sério? Pensei que ataques de asma fossem... Diferentes.
- Eu sou um caso especial!
Alguém me ajude!
- Entendo.
- Olha, eu já estou me sentindo bem agora. Obrigada.
Porque você está praticamente mandando ele embora???
- Então tudo bem. Tchau.
Ele se levantou e se virou. Num impulso eu ergui o braço e puxei a manga da
camisa dele. Do que me arrependi na mesma hora. Porque deve ter sido
ridículo. E quando ele olhou para mim. Eu fiquei estática.
- Ei, você está vermelha! Está sentido mal de novo?
Respire, respire, respire.
- E-e-e-e-e-e-e-eu-eu...Ahm.. Eu não tenho asma! – Alguém me faça parar! –
é que eu, as vezes esqueço de respirar.
- Como assim?
- Tipo... quando vo-vo-vo-você fica perto demais. – a cada palavra meu voz ia
se tornando mais baixo.
Eu devo estar da cor um tomate, ou pior.
Mas pude ver que ele ergueu as sobrancelhas e depois sorriu. Mas um
sorriso doce. E malandro ao mesmo tempo.
- Então, se por um acaso você ficar sem ar... – e ele foi se aproximando mais
e mais, até que o rosto dele estava a milímetros do meu e eu já não estava
mais conseguindo raciocinar.
Tendo em vista meu estado físico- emocional é completamente plausível que
eu tenha desmaiado depois do final da frase:
- Então, se por um acaso você ficar sem ar, já que a culpa vai ser minha, eu
tenho permissão para te ajudar com uma respiração boca-a-boca?