segunda-feira, 4 de junho de 2012
Salto Alto
- Eu já mencionei que eu odeio salto alto?
- Já, eu parei de contar na milésima vez. Deixa de ser fresca Yumi!
Infelizmente, sua altura não te ajuda então você tem que usar saltos para
dar uma força, né!
Ah, essa é minha melhor amiga, sempre vendo meus pontos fortes!
- Tá, mas por que tinha que ser agulha e não plataforma?
- Porque agulha é bem mais lindo né!
- Oh meu Deus! – eu disse colocando as mãos no rosto e fingindo espanto –
como não pensei nisso! Quem se importa se meus pés caírem depois dessa
noite não é?
Ela me deu um empurrão e achei que fosse cair ( não consigo me equilibrar
em cima disso!), mas ela mesma me segurou.
- Não sei do que está reclamando! Eu ainda fui gentil e deixei que você
viesse de calça jeans.
- Quanta gentileza de sua parte Lê! Sinto-me lisonjeada!
- Pare com esse sarcasmo! Estou tentando te ajudar!
É mesmo. Uma ajuda que, a propósito, eu nunca pedi.
Tudo isso é culpa do Dave. O novo namorado dela. Ele é muito gente boa, não
me leve a mal, mas graças a ele eu virei uma vela. Daquelas bem grandes!
Então Lê se sentiu culpada e resolveu que hoje ela iria arrumar um namorado
pra mim. Assim, todos nós poderíamos sair juntos! Isso é tão lindo que até
me dá náusea.
Enfim, ela fez aquela cara de cachorro que caiu da mudança, então eu
concordei em deixar ela me arrumar pra festa. Assim, aqui estou eu, com o
rosto entupido de maquiagem, uma blusa com um decote que destaca o busto
que eu não tenho e um sapato com um salto que deve medir o tamanho do
meu antebraço e da finura de um palito de dente (eu estar de pé deve ser
considerado um milagre divino!). O que me consola é minha boa e velha calça
jeans.
Nós duas saímos do metro e estamos caminhando até o local da festa do seilá-
quem. Então chegamos.
Bom, vou pular a parte vergonhosa em que minha melhor amiga tenta me
jogar em cima de mil garotos fedendo a álcool, e o desastre ecológico que
estava o banheiro e, não, eu não me arrisquei a abrir a porta de um dos
quartos.
Ok, voltando ao presente.
Aqui estou eu andando até o metro, sozinha ( eu não vou nem chegar perto
da Lê até essa minha vontade assassina passar, mas eu mandei uma
mensagem pra ela avisando que estou viva e indo para casa... e que vou matála).
Estou com a merda dos sapatos nas mãos e com a jaqueta que eu roubei
de um dos jovens bêbados,( ei, ele disse que eu podia ficar com ela, a culpa
não é minha se ele não estava são) e começou a chover. É claro que começou
a chover. Porque nenhuma desgraça vem sozinha.
Posso sentir toda a maquiagem escorrendo pelo meu rosto, e isso é muito
refrescante.
Mesmo estando um trapo, desço as escadas do metro um tanto contente por
estar indo para casa.
Até que sinto uma pontada de dor na sola do meu pé e solto um grito. E caio
da escada.
Sorte que faltavam só dois degraus.
Sento e vejo o culpado. Um caco de vidro. Oba!
Então eu puxo o caco para fora do meu pé. E dói. E eu xingo alto.
Só ai que eu reparo que tem um cara assistindo a cena toda. Quando
percebe que foi notado ele se abaixa perto de mim e pergunta:
- Você está bem?
Eu olho pra mim mesma. Molhada, borrada e com o pé sangrando.
- Sério que está me perguntando isso?
- Ah, certo. Foi uma pergunta estúpida. Vem, eu te ajudo a levantar.
Eu aceitei a ajuda. Eu não iria a lugar nenhum sozinha.
Então ele me levou até o banheiro (feminino), lavou meu pé e estancou a
ferida. Enquanto fazia isso, reparei, seus olhos verdes estavam muito
concentrados. Mas, não consegui deixar de me admirar com delicadeza,
porém firmeza, com a qual ele fazia tudo. E quando ele rasgou a manga da
camiseta para fazer uma atadura a ficha caiu.
- Você é médico? – ele parecia muito novo para se médico. Parecia ser uns 2
a 3 anos mais velho do eu mesma.
- Pretendo ser. – ele disse sorrindo para mim.
Quando ele terminou, eu agradeci e ele ficou comigo (servindo de apoio) até
o metro chegar. Nós conversamos um pouco e eu descobri que nome dele era
Nicolas. E algumas outras coisas. Tipo, que a faculdade dele é no meu bairro
e que, por um acaso, fica no caminho para a minha loja de quadrinhos e
mangás preferida (sim, tenho 16 anos e leio comics, algum problema?) e que
ele também frequenta essa loja.
Daí, o metro chegou. E nós nos despedimos.
Sentada sozinha com um leve formigamento no pé esquerdo, no meu colo
estava o maldito par de sapatos. Que talvez não fossem tão malditos assim.
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