sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O Encanto das Conchas

Caminhando na praia olhando, não para o mar que se estende além do
horizonte ou para o sol que tenta se esconder dentro daquelas águas
profundas, mas para a areia. Muita areia molhada.
E eu observo o vai-e-vem das ondas, esperando que a superfície lisa da água
seja cortada pela presença de alguma conchinha.
Deveria ter trago um balde. Porque já tenho tantas que não cabem mais em
minhas mãos. Levanto a barra da blusa e faço uma pequena bolsa. Não é
grande coisa, mas já é melhor que minhas mãos.
Por que será que conchas são tão encantadoras? Elas são meros restos,
deixados ali por um molusco. Mas são realmente lindas.
Assim como eu, a maioria das pessoas as acha na areia da praia e pegam-nas
para levar para casa. Simplesmente porque, naquele momento, acharam
aquilo tão bonito que não poderiam deixar ali. É um mau-hábito que as
pessoas tem. Não podem ver algo bonito que já o querem para si. São
egoístas. Se deixassem ali mais e mais pessoas poderiam apreciar aquilo.
Mas eu sou só mais uma hipócrita. Afinal, cá estou eu catando conchinhas na
praia.
Quanto mais fundo o sol mergulha no mar, mais pesada fica minha blusabolsa.
O respingar das ondas não molhou minhas roupas, mas me deixou com
cheiro de maresia. Os pelos dos meus braços estão arrepiados, e isso
começou a me incomodar, apesar de seca, o vento incessante já é gelado o
suficiente. Devo voltar, mas antes, vou sentar e ver o sol terminar seu
mergulho.
Afasto-me um pouco do mar. Sento na areia seca e algumas das conchinhas
caem da minha blusa.
Seguro um punhado delas nas mãos e fico a olhá-las.
Agora que paro para pensar... Céus! O que vou fazer com elas??? Porque é
que catei tantas? Acho que fui pega pelo encanto das conchas, de novo.
Agora, elas nem parecem mais tão belas.


A lua já está no céu, e eu estou tremendo tanto que se não voltar logo vou
ter uma hipotermia.
Recolho minhas conchinhas e ponho-as na blusa. Hora de voltar. Agora, as
ondas já estão bem violentas. Perfeito.
Uma a uma vou jogando as minhas conchinhas nas ondas. É claro que não as
vejo cair na água, está muito escuro, sequer ouço-as. As ondas são
barulhentas. Só vejo as minhas conchinhas sumindo no céu.



Ahhhhh!!!! Como estou dolorida.
Chegando em casa, desabo no chão da varanda, suja, com frio e sem nada em
mãos.
Mas, valeu a pena. As conchas eram mesmo lindas.
Por que eu não fiquei com elas?
Ah é! Quando as segurei nas mãos percebi que eram muito mais bonitas e
únicas quando as vi brilhando no meio daquele monte de areia.
No entanto, tola do jeito que sou, amanhã quando ver aquele pontinho
brilhando no meio da areia, cortando a superfície da água, resistindo ao
puxão das ondas, tenho certeza que vou pegar.
Vou pegar tantas que não vou nem conseguir carregar, só para depois ter
essa mesma conclusão e jogá-las nas ondas de novo.
Bom, não tem jeito. É assim que funciona, o encanto das conchas.
De qualquer jeito, não posso esquecer o balde!

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