domingo, 30 de outubro de 2011

Sonho?


Eu tive um sonho.
Eu sabia que estava deitada, mas não era na minha cama.
Onde estava deitada era duro e pinicava um pouco. Porém, sob minha cabeça,
ainda sentia meu travesseiro.
Não estava mais no meu quarto. Eu conseguia sentir a luz aconchegante do
sol sobre mim e também sentia um cheiro suave de verde.
Fechei minha mão e pude sentir a grama entre meus dedos. Eu podia ouvir o
canto de algum pássaro ao longe e também o barulho de água correndo,
talvez um pequeno rio.
Eu realmente queria abrir os olhos, mas imaginei que se fizesse isso iria
voltar para meu quarto escuro.
No meu sonho, fiquei deitada um tempo, ouvindo e apalpando a minha volta.
Constatei que, a minha volta, não havia nada além de grama. Pensei em
levantar e tentar andar um pouco, mas tive medo de acordar com isso
também. Aquele lugar parecia tão perfeito, não queria ir embora.
A curiosidade estava me corroendo e quando decidi levantar de olhos
fechados, escutei um novo ruído.
Passos.
Fiquei paralisada. Escutei atentamente, seja lá o que for se aproximar de
mim. Até que a coisa parou e sua sombra cobriu o sol que batia no meu rosto,
não gostei disso.
Eu pensei em correr, em gritar, em várias coisas. No entanto, fiquei lá,
deitada fingindo dormir.
Não sei quanto tempo passou, mas a sombra continuava sobre mim. Decidi
que poderia, pelo menos, dar uma olhadinha.
Reuni toda a minha coragem e tentei abrir o menos possível meus olhos e
então...
- Não vale espiar!
Quando ouvi a primeira palavra apertei meus olhos com tanta força que doeu.
A coisa falava! E parecia voz de um garoto, uma voz que eu nunca tinha
ouvido antes.
- Q-Quem e-está aí? – eu disse, não só minha voz estava tremendo, mas
minha mão também. Estava suando frio.
- Por que está tremendo? Por um acaso acha que eu vou te devorar? Não se
preocupe, eu não sou um canibal nem nada do tipo.
Eu podia ouvir um tom de brincadeira na sua voz. Mas mesmo assim não
consegui parar de tremer.
- Até parece que eu iria deixar você me devorar! – eu disse, fingindo
coragem.
- Não deveria falar essas coisas tremendo do jeito que você está.
Então eu pude ouvir sua gargalhada. Primeiro eu fiquei com muita raiva,
tenho certeza que fiquei vermelha também. Mas aquilo me acalmou. Não era
um riso assustador, era... Bom.
- Onde a gente esta? – eu perguntei.
- Você não sabe?
- Como eu poderia saber?
- Ué, você é que estava deitada aí tão calmamente. Pensei que tinha
resolvido tirar um cochilo ao ar livre. Trouxe até travesseiro!
- Bom, eu não sei onde a gente está! Onde estamos?
- Aqui.
- Aqui, ONDE?
- Estamos aqui na grama.
Ele estava realmente me irritando! Que tipo de resposta foi essa? Preciso
ver o rosto desse idiota!
- Não vale espiar, eu já disse.
- Como sabia que eu iria olhar?
- Não sabia, só achei que deveria dizer isso. Então, não espie.
- Por quê?
- Porque não.
- Você é muito irritante!
- Você tem cheiro de doce.
Meu rosto ficou quente. Isso lá é coisa que se diga? O que esse estúpido
pensa? E também, eu não tenho cheiro de doce, tenho?
- Olha só, eu te deixei com vergonha!
- C-claro que não! Estúpido!
E ele riu satisfeito. Idiota.
Depois disso, ficamos em silêncio. Eu queria conversar, mas estava com
muita vergonha pra dizer alguma coisa. Então voltei a ouvir o som do rio e
dos pássaros.
Até que...
- Você dormiu? – ele perguntou
- Como poderia dormir sabendo que tem um maluco me encarando?
- Tem razão.
E então ele riu. E mesmo se querer, acabei sorrindo. Eu queria mesmo ver o
rosto dele.
- Eu posso abrir os olhos agora?
- Não.
- Mas e se eu abrir?
Silêncio. Então eu estiquei o braço bem devagar e fui procurando por ele
cegamente.
- O que está fazendo?
- Procurando o seu rosto para que eu possa dar um soco nele.
Que expressão ele fez depois que eu disse isso? Ele ficou bravo? Ele
sorriu? O que? Eu quero ver.
- Por que eu não posso te ver? – eu disse. E percebi que estava agindo como
uma criança resmungona.
E foi ai que ele segurou minha mão.
- Por favor, não insista. – quando disse isso, sua voz não era mais alegre. Dor.
Havia dor ali.
- Só um pouquinho.
Ele deu um risinho e disse:
- Você é mesmo teimosa sabia?
E então algo pingou na minha bochecha. Chuva? Não, não havia cheiro de
chuva no ar. E também não era gelado. Será que? Será que eu o deixei tão
triste assim? Eu tenho que saber!
Com a minha mão livre procuro mais uma vez o seu rosto e quando encontro,
está molhado.
Tenho que olhar para ele quando for me desculpar. Quanto tiro a minha
cabeça do travesseiro tento apertar a sua mão, mas ela já não está mais lá.
Não, não, não.
Quando abro meus olhos, estou sentada na cama, encarando a escuridão do
meu quarto.
Minha mão, vazia, nem sinal de que, poucos segundos atrás, havia alguém que
estava segurando-a.
Porém, quando encosto a mão na minha bochecha, começo a chorar.
Ela estava molhada.

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