domingo, 11 de março de 2012
Árvores
O sol está se pondo. E fico admirada em como os últimos raios do dia ficam
perfeitos entre as folhas das árvores. Fingindo não ter mais o que fazer,
sento-me na grama e me concentro na imagem a minha frente.
É como se o sol tentasse absorver à árvore, tentando levá-la com ele. Mas
esta é resistente demais. Presa fortemente a chão, incapaz de se deixar
levar pelo calor. Deve ser ainda mais magnífica a noite.
De repente, tudo fica escuro, ou nem tanto. Porque ainda vejo luz nos
espaços entre os dedos que cobrem meus olhos.
- O que você quer Tom? – Sempre sei quando é ele, sempre.
- Como sabia que era eu? – Dizendo isso ele tirou as mãos do meu rosto e
ficou em pé na minha frente.
O mesmo jeans e tênis desbotado com a sua melhor camisa com manchada
de alguma substância desconhecida. O mesmo rosto travesso daquele menino
de 10 anos, com seus olhos negros astutos e cabelos desgrenhados de
mesma cor. Alguns diriam que ele é desleixado. Bom, não pra mim.
- OOOOLÁÁÁÁÁ???? Kim? Ainda está entre nós? – e lá estava eu vagando
de novo, mas ele me acordou com um peteleco na testa.
- Ai! Isso dói!
- É, mas trouxe você de volta. Não sei como consegue se perder tão fácil na
sua própria cabeça.
- Há-há. O que quer?
- Nada. Só queria achar você.
- Ok. Missão cumprida. E agora?
Ele olhou ao redor e então pegou meu pulso e me fez levantar me puxando
até o tronco de uma das árvores.
- Acho que foi nessa aqui... Aha!
Eu sabia o que ele tinha achado mesmo sem olhar.
Em um pedaço do tronco grosso, quase ilegível:
Tom X Kim
- Você lembra-se do dia que a gente fez isso? Faz uns... 6 anos né? Dissemos
que seriamos parceiros, sempre ajudando um ao outro e você disse que
nunca na vida ia encontrar um parceiro melhor do que este que vos fala!
- Não me lembro dessa última parte...
- Pois então você tem problemas de memória, querida.
- Ou você tem problemas com sua imaginação... – e então empurrei seu
ombro de leve, e ele repetiu o gesto.
Ficamos em silêncio por um tempo até que eu encostei meus dedos nas
palavras gravadas na árvore. Perdida nas minhas lembranças daquele dia,
quando eu era uma menininha de 10 anos. Tentando imaginar quando foi que,
durante esses seis anos, as coisas mudaram.
- Kim, nós ainda somos parceiros, não somos?- ao dizer isso ele parecia
tentar convencer a si mesmo.
- Claro que somos. – disse tentando parecer firme.
- Então você não mentiria pra mim, não é?
- Jamais, parceiro.
Então ele olhou pra cima e disse:
- Então, você é afim do meu irmão?
Ao ouvir isso, dei um passo pra trás e me engasguei, sabe-se-lá com o que.
- Por que isso agora?
- Fiquei curioso, só isso.
Ainda um pouco chocada com a pergunta, tento pensar no senti pelo mais
velho dos dois irmão Lasiter há muito tempo. A lembrança me faz sorrir e
percebo que não há problema nenhum em dizer a verdade.
- Se quer mesmo saber, sim eu já tive uma quedinha pelo mais velho dos
Lasiter. Mas eu tinha 10 anos, passou.
- Ah, que bom!
E de repente ele ficou imóvel, como se tivesse feito algo que não devia.
Interessante.
- Por que isso é bom?
Então ele começa a coçar a cabeça e olhar inquieto para os lados, como se
procurasse uma saída.
Eu, fiquei encarando-o quieta. E por me conhecer muito bem, ele sabia que a
única opção era a verdade.
- É que... Ah...que eu soube que tem um cara por ai que está de quatro por
você. – dito isso ele olhou pra mim, com um meio sorriso sem graça no rosto.
Fui obrigada a sorrir. Ambos sabíamos que não importa o que ele dissesse, já
era tarde. Está tudo escrito no rosto dele. Em letras grandes e vermelhas.
Ele nunca foi bom em esconder as emoções como eu.
Saindo do meu devaneio, vejo que ele está olhando para o chão chutando a
grama.
Então eu virei às costas e fui andando, pude ouvir ele tentar dizer alguma
coisa, mas resolvi me adiantar. Parei, porém não ousei olhar para trás.
Respirei fundo e disse:
- Ei parceiro! Diga pra esse cara que ele está sem sorte, porque no final das
contas eu ainda estou apaixonada por um Lasiter.
E sai correndo para o meio das árvores.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário