Estou balançando. Empurrando meu corpo para trás e para frente,
escutando o ranger das correntes enferrujadas. O parquinho está vazio.
Somente eu e os deprimentes brinquedos velhos. Um lugar para crianças não
devia parecer tão sem vida, nunca.
Bem, ele não era.
Estou cansada. Cansada de forçar-me para frente e depois para trás, para
tentar ir mais alto. Então apenas paro e deixo-me balançar pelos meus
esforços passados. Não penso em nada. Só ouço o barulho das correntes,
para trás e para frente...
De repente algo empurra minhas costas para frente e abro meus olhos,
alarmada.
- Vamos garota, fique de pé aí em cima! Vamos ver se você não perdeu o
jeito. Pelo que me lembro, você pulava bem longe! – nem precisei olhar, era
voz do meu pai. Ele sempre gostou de me balançar, bem, bem alto. Mesmo
que isso deixasse a mamãe louca de preocupação.
- Pai, acho que já fiquei velha para essas coisas... – Foi o que eu disse, mas
já tentava me manter equilibrada de pé no assento que subia e descia.
- Ixiiiii papai!!!! Aposto que ela vai cair como um jaca! – era o pentelho do
meu irmão caçula gritando do escorregador.
- Pois é, se fosse você não faria isso, nunca vai conseguir bater meu
recorde!! – Foi a irmã do meio, que tinha acabado de pular do balanço ao lado
e estava marcando a uma linha onde tinha pousado.
É claro que eu conseguiria pular mais longe que aquilo!
- Então querida? Aceita o desafio? – era papai, ainda me empurrando mais e
mais alto.
Antes que pudesse responder escutei minha mãe:
- Querido! O que está fazendo?! Amy, dessa daí, isso é um perigo! – ela
vinha correndo com as sobrancelhas franzidas.
- Você ouviu sua mãe Amy! Dessa daí! – papai disse, posso ter certeza, com
um sorriso travesso nos rosto.
E os meus irmãos riam e gritavam para mim pular, e eu ria também.
- Não, não foi isso que eu quis... ah! Desisto! – e mamãe parou com as mãos
na cintura contendo o riso.
- Ok, já está alto o suficiente. Pronta? – E então meu pai foi se juntar ao
resto da família no suposto lugar onde eu deveria parar.
Todos estavam sorrindo para mim. E lá em cima, com o sol aquecendo meu
rosto, eu me sentia em paz.
Então eu pulei.
E toda aquela paz se foi, pois enquanto caía um desespero me invadiu. E
várias perguntas cruzaram minha mente naqueles segundos.
Por que eu pulei?
Por que eu me machuquei?
Por que começou a chover?
Por que todos vocês foram me levar para o hospital? Por que não chamar
uma ambulância?
Por que não deixaram os mais novos com alguém?
Por que não deixaram para o dia seguinte?
Por que raios a estrada tinha que estar uma merda e por que estava
chovendo como se não houvesse amanhã?
E por que, eu me pergunto, por que vocês me deixaram aqui?
Eu não quero se abandonada.
Ei, pai, quem vai me empurrar agora?
Meus pés encostam o chão, e estou sentada no balanço, que finalmente
parou. Sem o barulho das correntes, o silêncio parece inquebrável.
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