sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O Abismo

Está caindo em um abismo e tem duas opções:
1ª: Segure a mão que se estende da beirada e seja puxado de volta.
2ª: Você pode continuar caindo, caindo na esperança de haver alguém lá no
fundo para te segurar, alguém que te ajudaria a enxergar naquele breu.

E não veja me dizer que às vezes não há mão pra se segurar! Sempre há uma mão, só que alguns não querem vê-la.
Agora, alguém lá no fundo? Alguém, lá fundo, que vai ter força para segurar
você? Alguém que vai conseguir achar a saída? Alguém que foi capaz de
sobreviver à queda? É praticamente impossível ter alguém lá embaixo!

No entanto, os salvadores têm limitações:
O que está na beirada só poderá te salvar enquanto sua mão ainda estiver ao
alcance.
Já o que está no fundo, se ele estiver lá, só poderá te salvar quando chegar
lá.
Muitos resolvem seguram aquela mão tarde demais, e tudo que lhes resta é
cair.

Creio que cair sem ter certeza se poderá se salvar possa ser doloroso, por
isso muitas pessoas tentam se agarrar as paredes e seguram-se bem firmes
e ficam lá, com medo de cair e sem força para subir, parados.

Como eu sei disso? É porque eu estou aqui em baixo. Como eu cheguei aqui?
Eu era uma daquelas mãos na beirada. E não pude alcançar a minha pessoa a
tempo, então pensei em pular, mas acho que ela resolveu se segurar nas
paredes.
Do tempo que estou aqui, ninguém que teve coragem de soltar das paredes
do abismo chegou ao fundo sem que houvesse alguém para lhe segurar. E
todos que esperavam por alguém aqui, nunca foram embora sozinhos.

E aí? Qual seria a sua opção? Escolheria a tempo? Seguraria nas paredes?
Aquela pessoa que estendeu a mão para você pularia para tentar te salvar?
Acho que essas coisas nós só sabermos a resposta quando acontecer.

Quanto a mim, eu poderia tentar escalar a parede para chegar a minha
pessoa, mas e se ela resolver soltar antes de eu chegar lá?
Por isso, vou esperar. Afinal se tive coragem de pular sei que ela também vai
ter coragem de soltar.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Já Basta!

Sabe, já está na hora,
já passou da hora, aliás!
Cansei-me disso,
não quero amar mais.

Estou farta de chorar.
Não quero mais suspirar.

Não por você.

 Quando você está perto
meu coração pula
e não consigo respirar
Por que tem que ser
tão doloroso amar?

Por que apareceu para mim?
Por que sorri para mim?
Pare de dar esperanças
ao meu pobre coração congelado.
Você sabe que jamais
poderá alcançá-lo.

Coração idiota,
levou tanto tempo para amar
e no final, você sabe
só irá se machucar...


Você se Foi

Eu sei, eu sei que você se foi. Foi para um lugar em que eu não posso segui-lo,
se tentar jamais chegarei lá! Eu sei mas, eu não entendo. Por mais que eu
diga a mim mesma “ele se foi, ele se foi” ainda... Alguma parte de mim, por
menor que seja se recusa a acreditar.
Eu vi você lá, lindo como sempre foi, em um terno muito bonito com as mãos
sobre o peito.
Sua expressão era serena, me lembrava muito bem dela. Sempre que te
olhava dormindo você tinha a mesma expressão. Eu sei que é ridículo mas, eu
esperava que você abrisse os olhos e sorrisse para mim e diria que tudo foi
uma grande piada. Mas não aconteceu. Eu pedi para que esperassem o
máximo possível, mas você não abriu os olhos. Eles fecharam a tampa e
taparam o buraco. E eu fiquei lá, só olhando.
Todos me olhavam com se eu fosse anormal. Porque eu não derramei nem
uma lágrima sequer, nem umazinha. E até hoje não o fiz. Não chorei. Creio
que seja porque eu ainda estou na segunda fase: A Negação. Será que eu não
poderia pular direto para a quinta.
Como você sempre dizia: eu odeio fazer as coisas do jeito certo.
Eu ainda espero você chegar do trabalho e me dar um beijo e então nós
conversaríamos sobre nossos dias, e sobre mais um monte de bobeiras como
sempre fazíamos. Acho que é injusto que mesmo que você tenha ido o seu
cheiro ainda permaneça na casa, e este intensifica ainda mais as minhas
lembranças de você.
Mas eu não quero sair dessa casa. E se você voltar? DROGA!!! Eu sei que não
vai voltar!
Eu quero ficar. Não quero perder nada. Nem uma lembrança sua. Não
importa a dor que elas me causem agora, não importa o quanto elas ainda vão
me fazer chorar. Eu não quero perder nenhuma delas porque eu sei que um
dia todas elas serão razões para que eu sorria.
Ora, veja só aqui estou eu, já faz um ano agora. E estou ajoelhada sobre seu
túmulo mais uma vez lembrando tudo isso. E as primeiras lágrimas salgadas
escorrem em torrentes pelo meu rosto (isso seria a depressão?). Acho que
ainda virei muito aqui e molharei o a terra que está sobre você e conversarei
com você. Ainda é reconfortante conversar com você. Você sempre disse
que eu falava demais, bom, velhos hábitos nunca mudam eu acho.
Eu me levanto, meus joelhos estão sujos de terra, os limpo e me viro para ir
embora.
Eu realmente não sei o que aconteceu depois, em um momento estava dando
um passo e no seguinte estava de cara no chão. Não sei como aconteceu!
Quando levantei olhei pra mim mesma e vi que estava coberta de terra. E
então comecei a rir. Rir muito, coisa que não fazia desde que você se foi.
Porque imagine que cena cômica: uma mulher se levanta e daí não consegue
nem dar um passo: cai direto de cara no chão!
Você costuma implicar comigo, sempre arrumava uma jeito de me fazer
tropeçar, a maioria das vezes eu me equilibrava de novo, mas quando não
dava você sempre me segurava.
Porque você não me segurou?
AH! Ótimo! Cá estou eu chorando de novo, mas estranhamente, estou rindo
também.
É isso não é? Precisei cair de cara na terra para entender! Você não pode
mais me segurar, mesmo que queira, você não pode.
Olhei para sua lápide mais uma vez e tentei juntar tudo o que senti, tudo o
que quis te dizer e não pude e o que saiu foi um sussurro meio soluçado:
“Eu não vou cair na próxima, idiota!”
Então eu pude ver, claramente, você bem na minha frente com aquele
sorriso brincalhão e seu olhar desafiador. Então você acenou pra mim, dessa
vez com sorriso doce e eu, eu acenei de volta e me virei para ir para casa.
Mas não resisti em dizer:
“A gente se vê”
E pude ouvir a sua risada travessa enquanto me afastava.
Se acha que vou só esquecer, está muito enganado. Vou sempre lembrar, mas
vou seguir em frente. De algum jeito!

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Fadas

Você acredita em fadas? Sabe, eu gostaria de acreditar.
Alguns dizem que fadas podem interferir de forma mágica no destino das
pessoas. Já ouvi dizer que são muito inteligentes, mas também já ouvi que
são bem burrinhas...
Já houve casos de pessoas dizerem que viram fadas, mas por mais que
queira, não consigo acreditar nelas.
Mas daí eu pensei “e se”...
Bom, se eu acreditasse em fadas elas seriam boazinhas, inteligentes e muito
fofas! Elas habitariam as florestas mais profundas, onde nós não
poderíamos achá-las para nos aproveitarmos delas. Somente as mais ousadas
saíram da floresta e só seriam vistas pelas pessoas certas, pessoas que não
fariam mal a elas.
Seriam bom se todos pudessem acreditar em coisas puras e belas como essa.
É verdade que a maioria das pessoas não acredita em fadas, duendes, elfos,
centauros, bruxas más, príncipes encantos e todas essas coisas de contos
de fadas. Mas quantas pessoas gostariam de acreditar?
Por quê? Hum... Talvez só porque sabem que não é possível que exista, talvez
porque gostariam de acreditar que poderia ainda existir algo puro, algo belo,
que o ser humano ainda não foi capaz de arruinar.
Se fadas existem, acho melhor que continuemos a pensar que não. Porque eu
ainda quero imaginar minhas fadas do meu jeito e pensar “seria bom demais
pra sem verdade”.
Se fadas fossem de verdade elas perderiam todo o encanto, não acha?
Afinal, certas coisas são bem melhores quando nós as imaginamos.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Um ano de Namoro

Nós dois estamos sentados num banquinho da praça tomando Milk-shake.
Comemorando um ano de namoro. E eu ainda não consigo acreditar como eu
posso estar com um cara como ele.
O dia está ótimo. O sol não está nos torrando e tem uma brisa fresca
soprando, balançando as folhas das árvores e tem várias crianças brincando.
- Posso fazer uma pergunta?- eu digo, fingindo indiferença olhando para as
pessoas andando.
- Você já acabou de fazer uma. - e dizendo ele me mostra aquele sorriso
brincalhão que eu adoro. – Mas como sou muito bonzinho deixo você fazer
mais uma.
- Há-há, que engraçado. E pensar que fui eu que ensinei isso para você!
- O pupilo supera seu mestre! Mas, o que queria me perguntar?- daí ele volta
a beber o Milk-shake e fica olhando para mim curioso esperando a pergunta.
- Ah... você... é... – e eu já posso sentir meu rosto quente que deve estar, no
mínimo, da cor de ketchup. – Você... hum... sabe eu pensei... se você está
comigo a tanto tempo... Você está apaixonado por mim?
Eu estive o tempo todo olhando para meus joelhos e quando levanto os olhos
ele está tossindo, tem Milk-shake no chão e o rosto dele está muito
vermelho.
- Você está bem? – e me levanto e seguro a mão dele, então ele olha para
mim e quando nossos olhos se encontram, não sei por que, mas eu sinto que
meu coração vai sair pela boca e solto a sua mão depressa e volto a olhar
para os meus joelhos.
Isso é estúpido, isso sempre acontecia quando começamos a namorar, mas
eu achei que tinha passado.
- Não seja uma idiota! Que tipo de pergunta foi essa? Não acredito que você
ainda tem dúvidas! Achei que fosse óbvio... – de repente a voz dele se
transformou em um sussurro – é claro que eu sou... apaixonado por você.
Se é que é possível sinto meu rosto mais vermelho ainda, mas eu ergo minha
cabeça e o vejo com as mãos no rosto, no entanto posso ver sua orelha, e ela
está púrpura.
Isso me faz sorrir. Eu achei que fosse impossível deixá-lo envergonhado!
Sou sempre eu quem fica vermelha, sempre.
Mesmo estando extremamente feliz pela resposta que eu tive não posso
deixar essa chance passar...
- Quando foi? – eu falo, e mais uma vez me volto aos meu joelhos.
- O que? – pelo canto do olho posso ver que ele tira as mãos do rosto e olha
para mim.
- Quando foi... que você se apaixonou por mim? – eu o olho nos olhos e
controlo a minha vontade de encarar meus joelhos, ciente de que estou tão
vermelha quanto ele.
- Por que você quer saber isso agora?
- Porque.. porque você nunca me diz nada e eu, bom um cara como você com
alguém como eu é... estranho. Eu não nada feminina, não sou bonita, eu sou
tão...sem sal.
- E só não sou bom nessas coisas! E não diga que você é sem sal!! Você é tão
complexa de tantas maneiras diferentes e mesmo assim tão perfeita... Tem
certeza de que é desse planeta?
Tive que rir. E isso fez com que eu ficasse mais calma. E parece que
funcionou para ele também.
Depois que o acesso de riso, de nós dois, passou ele passou um de seus
braços pelos meus ombros e me puxou para mais perto me fazendo apoiar
minha cabeça no seu ombro. Depois, eu pude sentir-lo encostar seu rosto
nos meus cabelos e eu estava tão feliz que tomei um susto quando ele
começou a falar:
- Eu respondo a sua pergunta, se você prometer que vai ficar desse jeito. É
proibido levantar sua cabeça. Entendeu?
- Você não quer que eu olhe para você porque está com vergonha? – eu disse
e me surpreendi com o tom travesso na minha voz.
- Ahh... não torne as coisas mais difíceis...
- Ok,ok... Eu prometo. – e um sorriso se formou nos meus lábios. Estou
mesmo gostando de deixá-lo sem graça!
- Ótimo! Bom, eu acho que não sei ai certo quando me apaixonei por você.
Sou muito estúpido para isso. Mas eu... hum... eu sei quando foi que eu
descobri que estava apaixonado.
“ Eu estava indo para casa a noite e eu vi três caras suspeitos conversando
com uma menina, eu parei para olhar porque parecia que eu conhecia a
garota. Então um dos caras a agarrou e eu corri para ajudar. Enquanto eu
corria pude ver que eu realmente conhecia a garota. Era você! Nós já
éramos amigos naquela época. Quanto cheguei mais perto vi que você estava
brigando com os três, e eles estavam perdendo, mas mesmo assim eu quis
ajudar!”
“Mas eu não sabia como! Você estava lutando tão bem! Eu sabia que você
tinha aulas de artes marciais, mas não sabia que era tão boa. Tudo que eu
pude fazer foi olhar você derrubá-los. Então eu coloquei a mão no seu ombro
para te dar os parabéns e daí quando dei por estava no chão. E quando eu
tentei me levantar você me deu um chute nas minhas...bolas... tão forte que
eu perdi a consciência.”
“ Quando eu acordei eu vi seu rosto e você estava chorando e me pedindo
desculpas e mais desculpas e aí você disse: “Eu não queria ter te batido tão
forte! Mas também, que idéia foi aquele de chegar assim do nada?? O quão
idiota você pode ser? AH! Eu fiquei tão preocupada!” e daí vou chorou mais e
continuava tentando enxugar as lágrimas. E eu fiquei no chão pensando em
como alguém poderia ser tão forte e tão frágil ao mesmo tempo...e pensando
em como eu faria você parar de chorar e comecei a entrar em desespero... e
então você levantou, me puxou do chão e sorriu.”
“Daí eu percebi o quanto eu estava encrencado porque eu me peguei
pensando que seria bom apanhar de novo e de novo e ver você ficar
preocupada comigo e ver aquele sorriso depois e andar apoiado em você por
ai por causa da dor e poder sentir o cheiro do seu cabelo...”
- Posso olhar para você agora?
- Nã...
Mas eu não esperei ele responder. Estava tão feliz, tão feliz!! Coloquei meus
braços em volta do seu pescoço e o beijei, e depois o abracei tão forte que
meus braços doeram.
- Eu deveria contar essa história mais vezes... – ele olhou para mim e sorriu.
- Se você ainda quiser eu posso te dar uma surra de novo...- eu falei,
esfregando os punhos.
- É claro, e dessa vez eu só vou acordar com um beijo!- disse ele rindo.
Então ele me viu levantar e me colocar em posição de luta. – Você está
brincando, né?







quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Guarda-Chuva

Está chovendo lá fora. Eu gosto. O barulho da chuva batendo nas folhas das
árvores e no chão parece abafar qualquer outro. É como se não existisse
nada, só eu e a chuva forte lá fora.
Abro a porta devagar, e as primeiras gotas de chuva batem na minha cabeça,
geladas. Não vou pegar um guarda-chuva, até porque eu não tenho um. Desço
os três degraus que separam minha casa da rua e já estou toda molhada. Eu
estou descalça talvez eu acabe escorregando, mas não me importo.
Não há ninguém, a rua está deserta mesmo que o sol tenha acabado de se
pôr e seja domingo. Isso bom, é como se estivesse em outro lugar e nada
daquilo tivesse acontecido.
Andei pelas ruas desertas por horas, ou talvez tenham sido minutos, a chuva
caindo e lavando tudo. Absorta em tudo, menos em mim mesma.
Até que algo me despertou. Dois adolescentes, um casal, de mãos dadas
correndo e rindo. Eles estavam tão molhados quanto eu, sabiam que correr
não ia adiantar nada, mas mesmo assim corriam. Ele ia na frente, e ela
agarrada a mão dele logo atrás com os sapatos em uma das mãos. Tão rápido
quanto apareceram eles foram embora. Mas eu fiquei lá, parada. Eles
estavam fugindo da chuva. Por que eu sai de casa na chuva? Acho que deixei
a porta de casa aberta. Tenho que voltar, mas eu não quero. Por que eu quis
tão desesperadamente ficar na chuva?? Já está escuro e a chuva está tão
forte e as gotas começam a doer...
Escuto um barulho tão alto que grito e caio de joelhos, foi um raio. Procuro
a parede mais próxima para tentar levantar, estou tremendo, já não sei se é
de medo ou de frio. Meu rosto está muito molhado, mas acho que não é só a
chuva.
Eu saí na chuva na esperança de que ela lavasse as minhas lembranças. E por
um tempo eu até esqueci. Mas de qualquer jeito não posso evitar voltar para
uma casa vazia.
Pensando bem vou ficar aqui, na esperança de que ele volte para casa e ao
não me encontrar lá ele saia para me procurar, isso quer dizer que ele se
importa, não é? Então ele vai aparecer com um guarda-chuva e me abraçar e
vamos para casa juntos, como sempre. Se ele não aparecer... Vou esperar
mais, se não for ele, outra pessoa certamente irá aparecer com um guarda-chuva...
Certamente.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Submersa

Ás vezes, imagino que estou debaixo d’água. Mergulho e afundo, até estar
sentada no fundo do oceano. Porque, lá embaixo, existe um mundo
totalmente diferente.
E a melhor parte é que, lá no fundo, você pode pensar que o mundo na
superfície é um sonho distante. Os sons de fora não chegam a mim, é
silencioso, calmo e eu posso passar muito tempo só observando como um
lugar tão calmo pode ter tanta vida.
Fico olhando meus cabelos flutuando ao meu redor, bolhas saindo quando eu
respiro e o som engraçado da minha voz lá em baixo.
Eu vago pelo mar e alguns peixinhos olham para mim e se afastam nadando
depressa.
Tem vezes que nado com golfinhos, baleias e até com um tubarão. Sempre
dou uma boa olhada nos tão maravilhosos corais e o mundinho que só a sua
existência proporciona.
É claro que também vejo as tartarugas, grandes e também os filhotinhos,
nadando lentamente e graciosamente como só elas fazem.
Ah... Agora o mundo da superfície parece tão surreal!
Eu ficaria bem lá embaixo com toda certeza.
O problema é que muitas vezes quando tento afundar, sou pescada por uma
rede sufocante e quanto mais tento me soltar, mais me enrosco nela. E eu
sou jogada de volta à terra desnorteada, perdida e os sons voltam altos,
fortes e machucam meus ouvidos. Várias pessoas querem que eu faça muitas
coisas de uma vez, impõem coisas à mim sem sequer escutar o que digo, sem
se importar com o que eu sinto.
Tudo que me resta é me acostumar com isso. E quando ficar excruciante,
finjo que estou bem, desejando mergulhar.
Porque se eu for bem boazinha eles não prestaram atenção em mim, afinal
só olham para você quando está fazendo algo errado, ninguém merece um
sorriso de aprovação simplesmente por fazer o certo, por se comportar.
“Isso é uma obrigação”. É assim que funciona.
Se eu não chamar atenção me esquecerão, pelo menos por um tempinho, daí
poderei mergulhar, afundar, ver meus cabelos flutuando ao meu redor,
bolhas saindo quando respiro... Ficar lá, embaixo d’água.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Frio

Está frio. Mesmo que eu esteja coberta com várias camadas de colchas, eu ainda sinto frio. Acho que "sinto frio" não é a expressão certa, o mais correto seria dizer que me sinto fria.
Eu sinto os meus pés, meus dedos, mas há uma coisa que eu não sinto. Você já deve ter descoberto o que é.
Quando vejo um pessoa juntas, sorrindo, se divertindo, meus lábios esboçam um sorriso, mas um sorriso triste, pois meus olhos não mentem. "Os olhos são a janela da alma" alguém disse uma vez. No espelho, o que vejo em meus olhos é escuro, um buraco frio e sem fundo que foi se formando com o passar dos anos.
Creio que se me olharem nos olhos as pessoas perceberão, e eu não quero que elas vejam, não queram que sintam o frio que vem de dentro de mim, não quero sintam frio, pois é doloroso.
Tudo que tenho fazer é evitar. Evitar que me olhem. Até chegar o dia em que o buraco ficará grande demais, o frio que vem dele ficará doloroso demais e eu enfim congelarei e as pessoas passarão por mim, cuidando de suas vidas, não me notarão e, sem querer, vão esbarrar em mim, e eu cairei e quebrarei eu mil pedacinhos que ninguém vai conseguir juntar.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Dormi em um Armário de Limpeza

Sério, quem disser que não gosta de festas de criança é um grande mentiroso. Docinhos, cachorro-quente, pipoca, algodão-doce e mais um milhão de comidas deliciosas. O único problema é que a partir da primeira espinha, adeus sacolinha de doces, mas fazer o que...
O problema é que eu vim trazer o meu irmão e tenho que FICAR AQUI até que ele queira ir embora. E parece que eu sou a única pessoa com mais de um metro que não está vestida de palhaço, e isso não é nada agradável.
Onde estão os pais das outras crianças? Devem estar no gramado lá atrás, no churrasco. É claro que lá eu ficaria do mesmo jeito que estou aqui, sentada pensando no meu azar rezando para que o parabéns fosse cantado antes que eu seja incapaz de tirar a minha bunda da cadeira. A diferença é que eu estaria sentada numa cadeira de tamanho normal que não vai me deixar futuramente corcunda. E não estaria prestes a ter um colapso por causa uma criança irritante que não para de gritar.
Porque eu estou aqui então? Bom, entre ser encarado por um bando de velhos como se eu fosse algum tipo de aberração só por não ter um único fio branco, eu prefiro ser encarada por um bando de melequentos como se eu fosse um tipo de aberração por ter minha cabeça proporcional aos meus membros, pelo menos aqui tinha comida!
- Tia, eu quero ir ao banheiro!- eu escutei uma vozinha dizer- Tia, tia, eu quero fazer pipi- e uma mãozinha puxou meu braço.
Ótimo! Tia! Agora eu sou chamada de tia!!!! Já estou enturmada, não é maravilhoso???
Depois de levar a minha nova amiguinha ao banheiro não tive mais sossego. Queriam que eu fosse pintar, pegar refrigerante, até tive que pular no pula-pula porque meu irmão não queria ir sozinho! Fui puxada para todos os lados por várias mãozinhas.
Quando o "parabéns" finalmente aconteceu eu aproveitei o momento para sumir de vista. Vi uma garçonete saindo por uma porta com uma bandeja de cachorros-quentes. A cozinha!!!! Nenhuma criança iria para a cozinha!
Dei uma olhada para localizar o meu irmão, ele estava muito bem, pelo jeito só iria embora quando a festa acabasse.
Entrei na cozinha agachada, acho que pessoal do buffer não iria querer ninguém xeretado lá dentro. Onde eu poderia me esconder? Tenho que pensar! Quando o parabéns acabar os empregados voltaram para a cozinha...
Ouvi várias palmas e depois uma mulher dizendo " Hora do bolo!!" e depois passos, vindo para a cozinha, se saísse agora todos iriam ver... Uma porta! Na parede ao da porta por onde tinha entrado! Deve ser um armário... Girei a maçaneta e entrei bem no momento em que a porta da cozinha abriu de novo.
Era um armário para produtos de limpeza, até que não era tão pequeno... ainda bem, pelo visto passaria um tempinho ali. Me sentei no chão e esperei, esperei não ouvir mais conversas, esperei, esperei, esperei....

- Moça?- uma voz meio distante chamou- Ei, garota!! O que está fazendo no armário?- a voz gritou e senti uma mão muito grande pra ser de criança sacudindo o meu ombro.
Quando abri os olhos dei de cara com outro par de olhos, muito escuros, e vi também um par de sobrancelhas franzidas pra mim.
- É um lugar meio estranho para se dormir você não acha?
- Dormir? Eu dormi?? A festa, meu irmão!!!- eu agarrei os ombros da pessoa que havia me acordado, mais desperta vi que era um garoto, deveria ser um pouco mais velho do que eu.- A quanto tempo foi o parabéns??
- Foi a uma meia hora.- ele disse como se fosse óbvio- Dá pra acreditar que ainda tem um bando de crianças aqui? Eu tenho que começar limpar,sabe, eu tenho um horário.- falou isso me olhando bravo como se a culpa fosse minha.
- Ainda tem alguém aí?- eu disse apontando para a cozinha.
- Não, os garçons estão lá fora arrumando as coisas. E eu sou o único que trabalha na limpeza da cozinha.
Eu respirei aliviada.
- Bom, então ah, eu tenho que sair do armário agora. - dito isso tentei me levantar, mas não tão fácil depois de meia hora na mesma posição. Ou seja, depois de conseguir me erguer alguns centímetros, bati minha bunda no chão de novo.- Ai!! Droga!- senti meu rosto corar, consciente de que o-cara-limpeza tinha visto tudo.
- Eu te ajudo.- ele estendeu a mão e eu, depois da humilhação, não estava na posição de recusar. Mas não fiquei nada feliz, dava pra ver que ele estava se segurando para não rir.
Olhei pra fora pela porta da cozinha e vi meu irmão brincando feliz e inocente com mais um monte de crianças. Graças a Deus!
- Ah, muito obrigada. -eu disse ainda vermelha para o cara-da-limpeza
- Sem problema, sempre que precisar sair de armários pode me chamar- e ao dizer isso ele sorriu e fez um sinal de 'joia' pra mim.
Eu sabia que ele estava tirando com a minha cara, mas eu não pude deixar de rir. Rir pela primeira vez na noite toda.
Depois disso ele começou a conversar comigo sobre várias coisas, e eu realmente estava gostando de conversar com ele, pois ele falava muito animado e sempre sorrindo, o que me fazia sorrir também.
Estava tudo muito bom até que meu celular tocou. Uma mensagem da minha mãe. " Hora de vir pra casa filha! AGORA!"
- Eu tenho que ir, minha mãe sabe, não quer que meu irmão fique fora até tarde...
- Ah, claro, eu também tenho que limpar as coisas por aqui. Desculpe te segurar aqui.- ele começou a coçar a cabeça meio sem graça.
- Não, quer dizer, conversar com você foi a melhor parte da noite toda!- depois que falei percebi que era algo muito constrangedor de se dizer. - Ah, Meu Deus, eu não sei o seu nome! Nem perguntei, que falta de educação a minha...
- Tudo bem, eu também não sei o seu.- e, para meu alívio ele voltou a sorrir.- É Caio. E o seu?
- Eliza.- nunca fiquei tão nervosa ao dizer o meu nome pra alguém- Eu tenho que ir. Foi um prazer conhecer você. Tchau, Caio!
Assim que me virei para sair senti algo segurando meu braço, imaginei que seria uma criança, mas é claro que não podia ser, só podia ser...
-Espera... é que... você não gostaria de ter o meu número? Quer dizer, nunca se sabe quando você vai ter que sair de um armário não é?
Ele estava tão vermelho quando disse isso, mas eu não deveria estar muito diferente.
Trocamos os nossos números e eu me virei para sair, rezando para que ele puxasse meu braço de novo, mas é claro que ele não fez isso.
Peguei meu irmão e fomos para casa. No caminho me peguei olhando para o celular e sorrindo dizendo baixinho:
- Será que eu caberia no armário lá de casa?