Sério, quem disser que não gosta de festas de criança é um grande mentiroso. Docinhos, cachorro-quente, pipoca, algodão-doce e mais um milhão de comidas deliciosas. O único problema é que a partir da primeira espinha, adeus sacolinha de doces, mas fazer o que...
O problema é que eu vim trazer o meu irmão e tenho que FICAR AQUI até que ele queira ir embora. E parece que eu sou a única pessoa com mais de um metro que não está vestida de palhaço, e isso não é nada agradável.
Onde estão os pais das outras crianças? Devem estar no gramado lá atrás, no churrasco. É claro que lá eu ficaria do mesmo jeito que estou aqui, sentada pensando no meu azar rezando para que o parabéns fosse cantado antes que eu seja incapaz de tirar a minha bunda da cadeira. A diferença é que eu estaria sentada numa cadeira de tamanho normal que não vai me deixar futuramente corcunda. E não estaria prestes a ter um colapso por causa uma criança irritante que não para de gritar.
Porque eu estou aqui então? Bom, entre ser encarado por um bando de velhos como se eu fosse algum tipo de aberração só por não ter um único fio branco, eu prefiro ser encarada por um bando de melequentos como se eu fosse um tipo de aberração por ter minha cabeça proporcional aos meus membros, pelo menos aqui tinha comida!
- Tia, eu quero ir ao banheiro!- eu escutei uma vozinha dizer- Tia, tia, eu quero fazer pipi- e uma mãozinha puxou meu braço.
Ótimo! Tia! Agora eu sou chamada de tia!!!! Já estou enturmada, não é maravilhoso???
Depois de levar a minha nova amiguinha ao banheiro não tive mais sossego. Queriam que eu fosse pintar, pegar refrigerante, até tive que pular no pula-pula porque meu irmão não queria ir sozinho! Fui puxada para todos os lados por várias mãozinhas.
Quando o "parabéns" finalmente aconteceu eu aproveitei o momento para sumir de vista. Vi uma garçonete saindo por uma porta com uma bandeja de cachorros-quentes. A cozinha!!!! Nenhuma criança iria para a cozinha!
Dei uma olhada para localizar o meu irmão, ele estava muito bem, pelo jeito só iria embora quando a festa acabasse.
Entrei na cozinha agachada, acho que pessoal do buffer não iria querer ninguém xeretado lá dentro. Onde eu poderia me esconder? Tenho que pensar! Quando o parabéns acabar os empregados voltaram para a cozinha...
Ouvi várias palmas e depois uma mulher dizendo " Hora do bolo!!" e depois passos, vindo para a cozinha, se saísse agora todos iriam ver... Uma porta! Na parede ao da porta por onde tinha entrado! Deve ser um armário... Girei a maçaneta e entrei bem no momento em que a porta da cozinha abriu de novo.
Era um armário para produtos de limpeza, até que não era tão pequeno... ainda bem, pelo visto passaria um tempinho ali. Me sentei no chão e esperei, esperei não ouvir mais conversas, esperei, esperei, esperei....
- Moça?- uma voz meio distante chamou- Ei, garota!! O que está fazendo no armário?- a voz gritou e senti uma mão muito grande pra ser de criança sacudindo o meu ombro.
Quando abri os olhos dei de cara com outro par de olhos, muito escuros, e vi também um par de sobrancelhas franzidas pra mim.
- É um lugar meio estranho para se dormir você não acha?
- Dormir? Eu dormi?? A festa, meu irmão!!!- eu agarrei os ombros da pessoa que havia me acordado, mais desperta vi que era um garoto, deveria ser um pouco mais velho do que eu.- A quanto tempo foi o parabéns??
- Foi a uma meia hora.- ele disse como se fosse óbvio- Dá pra acreditar que ainda tem um bando de crianças aqui? Eu tenho que começar limpar,sabe, eu tenho um horário.- falou isso me olhando bravo como se a culpa fosse minha.
- Ainda tem alguém aí?- eu disse apontando para a cozinha.
- Não, os garçons estão lá fora arrumando as coisas. E eu sou o único que trabalha na limpeza da cozinha.
Eu respirei aliviada.
- Bom, então ah, eu tenho que sair do armário agora. - dito isso tentei me levantar, mas não tão fácil depois de meia hora na mesma posição. Ou seja, depois de conseguir me erguer alguns centímetros, bati minha bunda no chão de novo.- Ai!! Droga!- senti meu rosto corar, consciente de que o-cara-limpeza tinha visto tudo.
- Eu te ajudo.- ele estendeu a mão e eu, depois da humilhação, não estava na posição de recusar. Mas não fiquei nada feliz, dava pra ver que ele estava se segurando para não rir.
Olhei pra fora pela porta da cozinha e vi meu irmão brincando feliz e inocente com mais um monte de crianças. Graças a Deus!
- Ah, muito obrigada. -eu disse ainda vermelha para o cara-da-limpeza
- Sem problema, sempre que precisar sair de armários pode me chamar- e ao dizer isso ele sorriu e fez um sinal de 'joia' pra mim.
Eu sabia que ele estava tirando com a minha cara, mas eu não pude deixar de rir. Rir pela primeira vez na noite toda.
Depois disso ele começou a conversar comigo sobre várias coisas, e eu realmente estava gostando de conversar com ele, pois ele falava muito animado e sempre sorrindo, o que me fazia sorrir também.
Estava tudo muito bom até que meu celular tocou. Uma mensagem da minha mãe. " Hora de vir pra casa filha! AGORA!"
- Eu tenho que ir, minha mãe sabe, não quer que meu irmão fique fora até tarde...
- Ah, claro, eu também tenho que limpar as coisas por aqui. Desculpe te segurar aqui.- ele começou a coçar a cabeça meio sem graça.
- Não, quer dizer, conversar com você foi a melhor parte da noite toda!- depois que falei percebi que era algo muito constrangedor de se dizer. - Ah, Meu Deus, eu não sei o seu nome! Nem perguntei, que falta de educação a minha...
- Tudo bem, eu também não sei o seu.- e, para meu alívio ele voltou a sorrir.- É Caio. E o seu?
- Eliza.- nunca fiquei tão nervosa ao dizer o meu nome pra alguém- Eu tenho que ir. Foi um prazer conhecer você. Tchau, Caio!
Assim que me virei para sair senti algo segurando meu braço, imaginei que seria uma criança, mas é claro que não podia ser, só podia ser...
-Espera... é que... você não gostaria de ter o meu número? Quer dizer, nunca se sabe quando você vai ter que sair de um armário não é?
Ele estava tão vermelho quando disse isso, mas eu não deveria estar muito diferente.
Trocamos os nossos números e eu me virei para sair, rezando para que ele puxasse meu braço de novo, mas é claro que ele não fez isso.
Peguei meu irmão e fomos para casa. No caminho me peguei olhando para o celular e sorrindo dizendo baixinho:
- Será que eu caberia no armário lá de casa?
muito fofa a historia! parabens escreve mais!
ResponderExcluirabraços