quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Você se Foi

Eu sei, eu sei que você se foi. Foi para um lugar em que eu não posso segui-lo,
se tentar jamais chegarei lá! Eu sei mas, eu não entendo. Por mais que eu
diga a mim mesma “ele se foi, ele se foi” ainda... Alguma parte de mim, por
menor que seja se recusa a acreditar.
Eu vi você lá, lindo como sempre foi, em um terno muito bonito com as mãos
sobre o peito.
Sua expressão era serena, me lembrava muito bem dela. Sempre que te
olhava dormindo você tinha a mesma expressão. Eu sei que é ridículo mas, eu
esperava que você abrisse os olhos e sorrisse para mim e diria que tudo foi
uma grande piada. Mas não aconteceu. Eu pedi para que esperassem o
máximo possível, mas você não abriu os olhos. Eles fecharam a tampa e
taparam o buraco. E eu fiquei lá, só olhando.
Todos me olhavam com se eu fosse anormal. Porque eu não derramei nem
uma lágrima sequer, nem umazinha. E até hoje não o fiz. Não chorei. Creio
que seja porque eu ainda estou na segunda fase: A Negação. Será que eu não
poderia pular direto para a quinta.
Como você sempre dizia: eu odeio fazer as coisas do jeito certo.
Eu ainda espero você chegar do trabalho e me dar um beijo e então nós
conversaríamos sobre nossos dias, e sobre mais um monte de bobeiras como
sempre fazíamos. Acho que é injusto que mesmo que você tenha ido o seu
cheiro ainda permaneça na casa, e este intensifica ainda mais as minhas
lembranças de você.
Mas eu não quero sair dessa casa. E se você voltar? DROGA!!! Eu sei que não
vai voltar!
Eu quero ficar. Não quero perder nada. Nem uma lembrança sua. Não
importa a dor que elas me causem agora, não importa o quanto elas ainda vão
me fazer chorar. Eu não quero perder nenhuma delas porque eu sei que um
dia todas elas serão razões para que eu sorria.
Ora, veja só aqui estou eu, já faz um ano agora. E estou ajoelhada sobre seu
túmulo mais uma vez lembrando tudo isso. E as primeiras lágrimas salgadas
escorrem em torrentes pelo meu rosto (isso seria a depressão?). Acho que
ainda virei muito aqui e molharei o a terra que está sobre você e conversarei
com você. Ainda é reconfortante conversar com você. Você sempre disse
que eu falava demais, bom, velhos hábitos nunca mudam eu acho.
Eu me levanto, meus joelhos estão sujos de terra, os limpo e me viro para ir
embora.
Eu realmente não sei o que aconteceu depois, em um momento estava dando
um passo e no seguinte estava de cara no chão. Não sei como aconteceu!
Quando levantei olhei pra mim mesma e vi que estava coberta de terra. E
então comecei a rir. Rir muito, coisa que não fazia desde que você se foi.
Porque imagine que cena cômica: uma mulher se levanta e daí não consegue
nem dar um passo: cai direto de cara no chão!
Você costuma implicar comigo, sempre arrumava uma jeito de me fazer
tropeçar, a maioria das vezes eu me equilibrava de novo, mas quando não
dava você sempre me segurava.
Porque você não me segurou?
AH! Ótimo! Cá estou eu chorando de novo, mas estranhamente, estou rindo
também.
É isso não é? Precisei cair de cara na terra para entender! Você não pode
mais me segurar, mesmo que queira, você não pode.
Olhei para sua lápide mais uma vez e tentei juntar tudo o que senti, tudo o
que quis te dizer e não pude e o que saiu foi um sussurro meio soluçado:
“Eu não vou cair na próxima, idiota!”
Então eu pude ver, claramente, você bem na minha frente com aquele
sorriso brincalhão e seu olhar desafiador. Então você acenou pra mim, dessa
vez com sorriso doce e eu, eu acenei de volta e me virei para ir para casa.
Mas não resisti em dizer:
“A gente se vê”
E pude ouvir a sua risada travessa enquanto me afastava.
Se acha que vou só esquecer, está muito enganado. Vou sempre lembrar, mas
vou seguir em frente. De algum jeito!

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