quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A estante mais alta


AH! Como eu odeio essas estantes! Por que os livros que eu quero sempre
tem que estar tão altos? E não tem sequer um banco ou escada nessa
biblioteca cheirando a mofo!
Que fim esses pobres livros levaram.
Em me ergo o máximo que posso, nas pontas dos meus tênis e estico o meu
braço, mas só minhas unhas roçam as lombadas gastas.
Eu tento alcançar dando pulinhos, porém é inútil. E penso que a cena deve
ter sido ridiculamente engraçada.
De repente, o cheiro de mofo fica mais fraco e começo a sentir um cheiro...
não sei...bom.
Me viro para procurar o responsável por aquele milagre e bato de cara com
uma camisa preta. Tentando me afastar, bato a nuca na estante e livros
caem sobre mim. E eu finalmente caio sentada.
- Ei, você está bem? – diz uma voz masculina, deve ser o senhor-camisapreta.
Quando abro os olhos ele está abaixado na minha frente, e percebo que seus
jeans são rasgados.
- Ei, está me ouvindo? – dizendo isso, ele colocou a mão no meu rosto,sua
mão era grande e quente, mas gentil. E eu senti que estava ficando vermelha.
Como reflexo, tentei me afastar dele e bati, pela segundo vez, minha nuca
na estante e mais uma vez, livros caíram.
- Ai! Droga! De novo?!
Então eu pude ouvir sua risada.
- Parece que você arranjou um jeito de pegar os livros altos, hem?
- É, só não é um jeito saudável. – e enquanto falava esfregava minha cabeça.
- Desculpe, a culpa foi minha. Quando fui pegar o livro pra você acabei te
assustando.
Foi ai que ergui minha cabeça. E a primeira coisa que reparei foi que ele
tinha um piercing no lábio inferior e que seus olhos eram negros, pareciam
até sem fundo.
- Ah... É... Tá tudo bem. – o cheiro, é dele.
- Era esse livro que você queria certo? – eu olhei para suas mãos, que
continham o livro que eu estava tentando pegar.
Então eu estiquei o braço e segurei o livro e puxei, mas ele não soltou.
- Ah, era esse sim, obrigada.
- Na verdade, eu também queria esse livro pra estudar. Você iria levá-lo pra
casa?
- Não, eu ia estudar aqui.
- Então nós não poderíamos estudar juntos?
Duvido que eu vá conseguir estudar alguma coisa com você perto de mim.
- Claro. Tudo bem.
- A propósito, sou Greg. E você? – e então ele esticou a mão pra me ajudar a
levantar.
- Nadia. – E quando segurei aquela mão quente, pensei que fosse derreter.
Depois disso, arrumamos a bagunça que eu fiz e passamos a tarde toda
estudando e conversando. Quanto mais o céu ia escurecendo, mais eu rezava
pra que ele fosse mais devagar.
Apesar da aparência, Greg era gentil e educado, e muito engraçado.
Quando o sol se pôs, eu relutantemente levantei e disse que iria embora.
- Espera, eu te acompanho. – Quando ele disse isso, em meio aos seus
cabelos, pude ver suas orelhas ficarem vermelhas – Quer dizer... Não é
seguro uma garota andando a noite sozinha.
- Adoraria companhia. – e essas palavras foram recompensadas com o
sorriso mais lindo que já vi, e o piercing dava um charme. – Você poderia
colocar o livro na estante? Amanhã eu voltarei pra estudar mais. Colocar em
uma estante mais baixa seria bom.
- Tudo bem.
Enquanto me dirigia para a saída, pude ver. Ele colocou o livro na estante
mais alta.
Após guardar o livro, ele olhou na minha direção, e percebeu que eu havia
visto.
Mesmo de longe, pude ver ele corar, então ele veio andando com as mãos nos
bolsos, ele e seu cheiro bom.
Então ele me alcançou, e nós fomos caminhando em silêncio. Até que ele
disse:
- Você não está pensando em ir com um sapato alto amanhã, está?

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