terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Cheiro de Chuva


Olhando pela janela, vendo a chuva cair e sentindo o cheiro terra molhada,
pela primeira vez em muito tempo, eu me senti em paz. Consegui esquecer
todas as minhas preocupações, todas as minhas frustrações e irritações.
Tudo que fiz foi observar o vento nas folhas, os pássaros procurando um lugar
pra se esconder, os relâmpagos e a chuva cair.
Eu queria ter ficado ali pra sempre. Como uma espectadora. Por que desse
jeito eu não iria estragar nada.
Como um fantasma, vendo tudo, estando ali, mas não existindo. Quem sabe
desse jeito eu não aprenderia alguma coisa.
O ruim de ir “vivendo e aprendendo” é que não existe um botão de espera. Não
existe um botão de reinicio. Somente o Fim de Jogo.
Seria bom se o tempo me desse um tempo, pra que eu pudesse me entender e
entender os outros. Pra que eu pudesse fazer tudo que eu preciso fazer, sem
desapontar ninguém. É, certamente seria maravilhoso.
Mas o tempo é frio e cruel. Ele passa e muda tudo sem nos dar tempo pra
assimilar o que acontece ele quer que aceitemos aquilo que nos impõe. Não
quer saber se será bom ou ruim, ele não liga. Nós temos que continuar, porque
o tempo não para.
Então eu me pergunto: Quanto tempo? Quanto tempo eu vou precisar? Pra
entender que qualquer que seja o tempo, ele sempre será pouco.
Pouco pra sorrir.
Pouco pra chorar.
Pouco pra fazer o que eu tenho fazer.
Pouco, muito pouco, para estar com você.
Por isso, olhando pela janela, sentindo o cheiro da chuva que passou eu gosto
de imaginar que o tempo parou.


sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Péssima


A verdade é que eu não estou me sentindo péssima, na verdade, não estou nem um
pouco triste. E isso me faz sentir péssima!
Porque quer dizer que, na verdade, nunca foi nada e ele estava certo.
E essa solidão que sinto não é por que eu sentia algo por ele, mas sim porque todos os
seres humanos necessitam de uma companhia.
Odeio admitir, porém quem estava mentindo era eu, dizendo a mim mesma que ele era
especial.
O problema é que o medo da solidão não me deixou ver a verdade.
Quantas vezes eu já cometi o mesmo erro?
Pra quantos eu menti? Quantos eu enganei?
No fim das contas, amei? Nem que seja só um... Eu realmente amei de verdade algum
deles?
Acho que não.
Na verdade, eu não estou deprimida, estou um pouco, digamos, satisfeita até, por não ter
mais nada me prendendo.
Aí está! Que tipo de pessoa sem coração eu sou?
Ainda sim, não me sinto mal por isso. Eu gosto de ser assim.
Mas e prometo que da próxima vez, será pra valer. Não vou mais enganar ninguém.
Principalmente, não irei mais enganar a mim mesma.
Porque, você sabe, nós SEMPRE sabemos o que sentimos, o problema é que as vezes o
que se sente não é o que se quer sentir. Daí, nós mentimos.
Fingimos amar, fingimos não amar e no final das contas você sempre se sentirá péssima,
ou por sentir demais ou por sentir de menos.


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Nossa Matemática


Veja bem, eu não pedi pra ele me dar aulas particulares de matemática. Porque eu sabia
que isso iria acontecer. Mas ele percebeu que minhas notas estavam horríveis e como
um bom vizinho/colega de sala se ofereceu pra me ajudar. Tudo seria perfeito se ele não
fosse o motivo de eu não prestar atenção na aula. Por isso aqui estou eu pensando em
como o cabelo dele fica perfeito despenteado e como ele está perto demais e como eu
vou respirar desse jeito.
- Entendeu Luana?
Olho para o que ele escreveu e aquilo parece grego pra mim.
- Ah, acho que sim. – Mentira! Não entendi bulhufas daquilo.
- Ok, então resolve esse exercício aqui. – e ele apontou pra um dos exercícios do livro.
Então faço o maior esforço do mundo pra tentar entender a questão, mas como faço isso
se eu sinto que ele está me encarando????
Esfrego o meu cabelo e mordo o lápis (tão graciosa...) e ele solta um risinho baixinho.
Me sinto corar. Mas não vou deixar ele tirar sarro de mim!
- O-o que foi? Eu só preciso pensar um pouco mais! Não precisa ficar rindo da minha
burrice!
- Desculpe, eu não estava rindo disso. Eu ri porque você tem o mesmo hábito que eu,
de morder o lápis...
- Ah ta, desculpe. – ai que mancada! Mas ei, nós temos algo em comum!
- Vamos, vou te ajudar a entender. – então ele se levantou da cadeira e se apoio no
encosto da minha. – Muito bem, aqui por exemplo você usa a fórmula... – O rosto dele
ta muito perto do meu!!!!!!!
Levanto bruscamente e bato minha cabeça no queixo dele.
- Ai, desculpe! Eu... Preciso ir ao banheiro. – E depois disso sai correndo.
Ok, Luana, se você se mostrar uma total retardada ele vai desistir de você e não vai te
dar aulas e depois, EU PRECISO MESMO PASSAR DE ANO!
Beleza, quando sair desse banheiro vai se comportar feito gente! Controle-se garota!


Depois disso, as coisas ficaram mais calmas, eu tentei manter uma distância saudável
dele e me focar na voz dele, assim entenderia a matéria. E ele explicou tudo de novo pra
que eu pudesse entender direito. Me surpreendi ao conseguir fazer os exercícios que ele
pedia e acertar todos.
- Ta vendo? Não é nada difícil! Você já tá craque!- Ele sorriu pra mim e me deu uma
folha com uma questão. – Essa é a última, fui eu que fiz, é bem desafiadora.
Eu comecei a ler a questão e... Não parecia complicada.
Alguns minutos depois eu terminei.
- Breno! Acho que consegui! A resposta é I maior que 3u??? Não espera, coloquei o
sinal errado... I é menor que 3u. É isso né?
- Foi só isso que você achou?
- Claro! Porque o X você corta aqui então fica I em função de U. – e mostrei pra ele.
- Bom, parabéns você acertou! – e deu um sorriso amarelo, então de repente ele
colocou a cabeça na mesa e cruzou os braços em volta dela.
- Breno, você está passando mal? Suas orelhas estão vermelhas...
- Eu já vou indo então! Foi um prazer ajudar você. Espero que se dê bem na sua prova.
– dizia isso enquanto se levantava e arrumava suas coisas.
O que eu fiz? Será que errei a questão? Será que fiz alguma burrice que irritou ele?
Droga! Mas eu tenho certeza deu I menor que 3u! O que eu errei?
Então meu cérebro deu um clique.
I menor que 3u. Peguei a folha e olhei de novo o resultado pra ter certeza. E lá estava:

               
                             
Será que era isso mesmo??? Será? O Breno....
Enquanto eu pensava ele arrumou suas coisas e eu escutei ele abrindo a porta de entrada
pra sair.
Bom, se não for isso, já foi, pois eu estou saindo correndo de dentro de casa feito uma
louca.
Ele estava atravessando a rua pra chegar em casa e eu fiz única coisa que me veio a
cabeça. Fui correndo e abracei-o por trás.
- Luana?
- Desculpe, desculpe! Eu sou muito tapada! Demorei pra perceber...
- Eu não pensei que ficaria tão sem graça... – ele disse coçando a cabeça. – Mas já que
fui eu que comecei isso preciso saber... Qual é a sua resposta?
Então eu o soltei e fiquei de frente pra ele e disse:
- I é menor que 3u, i é menor que 3u muito muito muito muito!!!!!
Ele sorriu de orelha a orelha pra mim e encostou a cabeça dele na minha.
E quando eu olhei nos olhos dele, eu pude ver que ele estava tão feliz quanto eu, por
isso nós ficamos desse jeito no meio da rua sei lá por quanto tempo e não sei como
nenhum carro nos atropelou.
Agora sim matemática serviu pra alguma coisa.




quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Marca


Se eu pudesse explicar em palavras o quanto te admiro, se eu pudesse contar tudo que
me ensinou, se eu conseguisse fazer toda minha gratidão alcançar você...
Mas por mais que eu tente me expressar, nada do que digo se iguala ao que sinto. Você
pode não acreditar, mas você tem parte na pessoa que sou hoje. Você pode achar que é
exagero meu, mas a verdade é que quando eu me senti perdida suas palavras me
guiaram pelo caminho certo.
Provavelmente pra você sou só mais um em um milhão, um em um milhão daqueles que
também são quem são por sua causa.
Você marcou a minha vida.
As vezes me pego pensando se não poderia embrulhar você e levar pra casa, pra você
me guiar pra sempre, porém você não ficaria feliz com isso não é? E também, seria
egoísmo da minha parte, afinal, ainda existem muitas pessoas pra você guiar, muitas
pessoas que ainda vão se sentir como eu agora.
Queria que estivesse sempre aqui pra segurar a minha mão pra que eu não me perdesse,
mas uma das coisas que me ensinou foi que temos que andar sozinhos e que não faz mal
se perder às vezes, pois nunca é tarde pra voltar e procurar o caminho correto.
Quando me perguntarem o que eu quero ser, direi que quero ser como você, alguém que,
além de viver sua vida, é capaz de marcar outras.
Está vendo? Isso é o máximo que consigo. No entanto, garanto que isso não é nem a
metade do que está em meu coração.
Obrigada, por me marcar.


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Quando?


Quando foi? Quando foi que você entrou na minha cabeça? Quando abriu as portas do
meu coração? Quando começou a me fazer tão feliz? Quando pensar em você se tornou
minha razão para sorrir?
Quando comecei a sentir saudade de você? Quando passei a me importar com você?
Quando foi o que você faz começou a fazer tanto efeito em mim?
Quando foi que você começou a falar comigo? Quando foi a primeira vez que abraçou?
Quando foi que andar do seu lado se tornou algo tão normal?
Eu não me lembro! Quando foi mesmo?
Porque quando me dei conta, já estava assim, como se você sempre estivesse estado
aqui.



quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Medo


Estou com medo. Medo de sucumbir a meus pensamentos, de me afogar na minha
imaginação.
Quando estou sozinha, é inevitável, me perco em devaneios. Porque minha mente é a
única coisa que me separa da solidão. Ou separava.
Ultimamente, fui traída. Porque quando vou procurar refúgio em meus pensamentos,
estes só me lembram que não há ninguém, não me deixam esquecer o frio lá de fora está
apagando a chama.
Todas as despedidas eu tive vontade de dizer “não me deixe sozinha”, mas me contive.
E assim que me viravam as costas sentia o hálito frio da solidão. E, como sempre, fugia
para a minha mente. Porém, já não consigo mais encontrar conforto e também não
consigo mais sair.
Constantemente sendo bombardeada por aquilo do qual tentei tanto fugir.
“Sozinha”
“Fraca”
“Covarde”
“Insignificante”
“Por que você não desaparece?”
“Logo,logo vão te esquecer”
Posso escutar uma voz áspera sussurrando no meu ouvido. Enquanto vou lentamente
imergindo em algo negro e pastoso. Quando dou por mim, já submergi até o pescoço e,
numa tentativa inútil, tento sair.Mas o líquido grudou em meu corpo e tornou-o pesado.
Medo. Estou me afogando. Preciso sair, preciso acordar.
Porém, se eu acordar, o que me espera lá fora?
Estou com medo. Medo da solidão lá fora.
Posso sentir o piche em meus pulmões enquanto afundo bem devagar. Está escuro e frio.
Ah, solidão... Como foi que você conseguiu chegar à minha mente? Como descobriu
meu abrigo?
E me pergunto quanto tempo vai precisar para apodrecer meu coração...


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Alguém


Às vezes, precisamos fazer algo, mas não queremos fazer sozinhos. Então pensamos em alguém.
Quando acontece algo muito bom, precisamos contar pra alguém, pra O alguém.

Se ficamos muito entediados, vamos perturbar O alguém.

Sempre aquele mesmo alguém.

E esse alguém sempre vem, sempre escuta, sempre reclama, sempre ri, sempre se pode contar.

Mas e quando esse alguém não vem?
E quando esse alguém não se importa?

Quando você recebe uma notícia muito boa, pensa: “Tenho que contar pra ele!” e sai correndo procurando o celular e mal consegue procurar o número de tão eufórica e quando finalmente vai ligar, cai em si.
Lembra que ele não vai se interessar, que vai murmurar um “que bom!” e nem vai perguntar mais nada, que vai dar uma desculpa pra desligar o mais rápido possível.
Então, joga o celular em qualquer canto porque não tem sentido contar pra alguém.

Num domingo a tarde, de bobeira no sofá, pensa: “quero conversar com alguém.” E mais um vez, se vê encarando aquele nome na lista de contatos imaginando que nem assunto você tem pra querer conversar. Sabendo que no fim das contas não vai ligar, porque sabe que só vai atrapalhar.

Porém, não adianta. Alguém sempre vem a minha mente pra preencher qualquer espaço vazio. Alguém com quem contar. Mas esse é só Alguém. Alguém que sempre me vem e que nunca está.
Às vezes, é meio triste, pois eu consigo perceber que, quando estamos frente a frente, enquanto eu vejo Alguém, Alguém vê apenas... 

Ninguém.




                           

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Amigo


Você é personificação da inconveniência, sempre me põe nas situações mais
constrangedoras possíveis, está sempre lá para dizer: “bem feito” ou “eu te
disse” quando faço alguma merda, vive me perturbando, procurando malícia
em qualquer “a” que digo só para fazer aquele seu maldito “hummmm”
ridículo!
Naquele momento seriíssimo você faz aquela careta que sabe que me faz rir!
Tem o descaramento de me colocar no meio de todas as loucuras que você
apronta, e ainda diz que a culpa é minha!
E o mais inacreditável!!!!!
Está sempre comigo.
Comigo. Um ser estranho e maluco perdido em si mesmo que tenta dar uma
de forte, mas não consegue se enganar. Às vezes me pergunto o por que. Eu
não me agüentaria do jeito que você faz. Como pode suportar meus ataques
histéricos, os meus momentos de raiva, a minha melancolia?
Eu não vou dizer que você é um anjo porque... Pelo amor né! Você tem a
graciosidade e candura de um gorila!!!
Mas um gorila que vai bater no peito e mostrar os dentes pra qualquer um
que tente me machucar.
Eu nunca fui muito boa em dizer coisas doces pra pessoas importantes pra
mim. Eu sempre acabo fazendo metáforas horríveis. Mas é que eu não
consigo, não consigo dizer direito.
Me desculpe, por não dizer isso sempre, mas...
Obrigada, amigo. E lembre-se: “ És eternamente responsável por aquilo que
cativas.”
Ou seja, não vai se livrar de mim tão cedo querido!





quinta-feira, 19 de julho de 2012

Chorar


Sim, eu chorei.
Chorei por você, acredite. Por que fiz isso? Sei lá, acho que sou chorona
mesmo.
Porém, por um momento eu pensei que as lágrimas poderiam levar com elas
esse sentimento. Algumas vezes também pensei que se chorasse eu poderia
esquecer tudo. Já imaginei que se chorasse muito gastaria todas as minhas
lágrimas e nunca mais precisaria chorar.
Bom, acho que meu estoque é infinito.
Ei, não pense que sempre choro por gostar de você! Na maioria das vezes,
choro de raiva. Por sua estupidez e minha covardia.
No entanto, o que mais me impressiona é como eu choro por coisas alheias a
mim. A felicidade e tristeza das pessoas ao meu redor sempre me comoveu
mais.
Isso é bom?
Nunca gostei de chorar na frente de alguém, mas ultimamente tudo está
bagunçado, por sua culpa. Enfim, chorar na frente de alguém faz com que eu
me sinta frágil demais, quebrável...
E sempre achei engraçada a reação das pessoas ao meu choro. Nunca sabem
o que fazer.
Isso, quando percebem que estou chorando.
Muitas vezes choro, mas meus olhos não ficam vermelhos e nem uma gota
escorre pelo meu rosto.
Esse é o pior de todos, o que mais precisa ser acalentado, o silêncio.
Uma vez eu ouvi: “O silêncio é o choro mais alto de uma garota”
Certamente é o mais alto, porém, por que você não escuta?

domingo, 15 de julho de 2012

Indesejado


Já se sentiu indesejado? Sabe, como se não quisessem você ali, mas tivessem
muito pena para dizer isso na sua cara.
E então primeiro você pensa: “Devo estar imaginando coisas, deve ser isso.”
Até que se torna algo tão estupidamente óbvio que você não pode mais se enganar.
E eu passo a me perguntar: “Por que simplesmente não disse que não precisava de
mim?” Teria doído muito menos. Na verdade, até uma facada pelas costas teria
doído menos.
Mas você, não! Você fez tudo de modo que todos pudessem ver, mas ninguém
pode enxergar. Admito, foi muito esperto da sua parte. E eu fui ingênuo.
E agora eu quero muito, muito te encher de pancadas. Até você sangrar. Quem
sabe assim você não chegue perto de se sentir assim.
Frustração. E muita raiva de mim mesmo. Por realmente ter pensado que você
gostava de mim.
Agora, toda vez que me lembro do seu sorriso tenho vontade de cuspir em você.
Graças a você senti-me um lixo, a escória, algo totalmente desnecessário. E ainda
me sinto.
Só espero que o tempo faça isso passar.


E mais uma coisa, posso estar me sentindo um fracasso, posso ainda não ter
recuperado meu orgulho, mas tenha absoluta certeza que, até essa ferida sarar,
quando te olhar toda a minha dor se reverterá em desprezo exclusivo a você.




terça-feira, 3 de julho de 2012

Amor, na época dos Príncipes


Quando me contaram sobre amor, que era algo inexplicável, maravilhoso e mágico
eu, ignorante, sorri e pensei: “Pobres tolos apaixonados, logo, logo isso passará”.
E eu estava certa.
O encanto inicial passou e eles se tornaram tristes e frustrados. E me disseram:
“Eu é que não vou mais me apaixonar! Não vale a pena!” e então pensei comigo: “É
claro, até a próxima vez.”
E novamente eu acertei.
Hoje em dia, essas pessoas sorriem, sofrem, amam, odeiam, invejam, mas eu digo
com toda certeza que no fim elas terão a plena certeza de serem felizes. E que
quando a hora chegar, não dirão mais “estou apaixonado” e sim “sou apaixonado”,
pois encontrarão o amor do qual me falaram aquele dia quando eu ainda
acreditava em príncipes.
O amor estúpido, inesgotável, imperfeito, divertido, doloroso, insubstituível e
eterno.
Eu esqueci os príncipes a muito tempo atrás, porém esse amor, não consigo deixar
como uma lembrança da infância. E vou manter minha crença neste amor.
Afinal, temos que nos manter com a cabeça um pouco nas nuvens, pois nossos pés
já são firmes demais.


sexta-feira, 8 de junho de 2012

Respire


Respire fundo. Respire fundo. Respire fundo. Respire fundo. Respire fundo.
Respire fundo. Respire fundo.
- Então, acho que você está roubando meu oxigênio.
- Desculpe, acho que eu não consigo.
- Ahhhh, nada disso! De hoje não passa. Anda logo. Ele está logo ali.
E então ela me deu um empurrão. E quando olhei para trás ela fez sinal com
as mãos para que eu continuasse em frente.
Respire. Não se esqueça de respirar.
Ok, é só por um pé na frente do outro. Ele está bem ali. Com a mesma
camisa preta e calça jeans de sempre. E com seus fones.
Essa não! Ele vai me odiar se eu interrompê-lo enquanto ele escuta música!!
É, melhor deixar para outro dia mesmo!
Mas quando dou meia volta lá está ela me olhando de braços cruzados. E ela
não está feliz.
Tá. Vamos tentar de novo.
Respire, respire e respire. Um passo, dois, três... Estou a menos de um
metro das costas dele. Mais um passo. Agora basta eu esticar o braço.
Minha sorte que ele esteja de costas para mim e absorto nos seus próprios
devaneios para me notar.
Arrisco esticar meu braço e meus dedos ficam a centímetros dele. Minha
boca está seca, minhas mãos suadas e frias. E acho que, se não estivesse de
fones, ele já teria ouvido meu coração.
Abro a boca, mas nenhum som sai.
Respire, respire, respire.
Não vou parar agora.
Vai ser no três. Isso. No três.
Um... E ele virou para trás.
E eu me perdi. Fui completamente nocauteada por aqueles malditos olhos.
Acho que ficamos nos encarando por alguns segundos, que pareceram
séculos.
Até que ele tirou os fones e perguntou:
- Você está bem?
Mas eu não consegui responder. Em parte porque ele estava muito perto, em
parte porque estava começando a ver uns pontos pretos na minha visão.
Por entre os pontos pretos ele parecia preocupado, mas talvez fosse
impressão minha.
De repente, ele segurou firme meus ombros e ele estava tão quente que meu
coração deu um salto e eu puxei uma enorme quantidade de ar para os meus
pulmões.
Respirar. Eu tinha me esquecido de respirar! Meu Deus, esse cara vai acabar
me matando!
Quando me recupero totalmente, estou sentada num banco próximo, e ele
está sentado também. Foi muita maldade da parte dele ter olhado para mim
de novo logo quando eu estava quase voltando ao normal. Mesmo que tenha
sido para perguntar:
- Você quer que eu te leve ao hospital?
Ah claro! Assim vou ter diagnóstico médico de que estou com paixonite
aguda!
- Ah... Não...Eu...Ah... – então eu fiz um demente joinha para indicar que eu
estava bem.
- Você ainda está pálida. Faz tempo que você comeu? Espere aqui. Vou
comprar alguma coisa.
Não, não faça isso. Não seja bonzinho. Não roube o pouco de sanidade que
me resta!
Ok, pelo menos, já que ele foi posso me recompor.
Respire fundo. Respire fundo. Respire fundo. Respire fundo.
E lá vem ele. Com sorvete.
- Foi a comida mais próxima que eu achei. – ele disse me entregando um
sorvete. – Então, você está melhor? Pareceu que você tinha perdido o ar ali
atrás. Isso acontece sempre?
Quando você está perto, com muita freqüência.
- Ah, eu tenho... Asma! – eu disse tentando me esconder atrás da minha
casquinha de chocolate.
- Sério? Pensei que ataques de asma fossem... Diferentes.
- Eu sou um caso especial!
Alguém me ajude!
- Entendo.
- Olha, eu já estou me sentindo bem agora. Obrigada.
Porque você está praticamente mandando ele embora???
- Então tudo bem. Tchau.
Ele se levantou e se virou. Num impulso eu ergui o braço e puxei a manga da
camisa dele. Do que me arrependi na mesma hora. Porque deve ter sido
ridículo. E quando ele olhou para mim. Eu fiquei estática.
- Ei, você está vermelha! Está sentido mal de novo?
Respire, respire, respire.
- E-e-e-e-e-e-e-eu-eu...Ahm.. Eu não tenho asma! – Alguém me faça parar! –
é que eu, as vezes esqueço de respirar.
- Como assim?
- Tipo... quando vo-vo-vo-você fica perto demais. – a cada palavra meu voz ia
se tornando mais baixo.
Eu devo estar da cor um tomate, ou pior.
Mas pude ver que ele ergueu as sobrancelhas e depois sorriu. Mas um
sorriso doce. E malandro ao mesmo tempo.
- Então, se por um acaso você ficar sem ar... – e ele foi se aproximando mais
e mais, até que o rosto dele estava a milímetros do meu e eu já não estava
mais conseguindo raciocinar.
Tendo em vista meu estado físico- emocional é completamente plausível que
eu tenha desmaiado depois do final da frase:
- Então, se por um acaso você ficar sem ar, já que a culpa vai ser minha, eu
tenho permissão para te ajudar com uma respiração boca-a-boca?


segunda-feira, 4 de junho de 2012

Salto Alto


- Eu já mencionei que eu odeio salto alto?
- Já, eu parei de contar na milésima vez. Deixa de ser fresca Yumi!
Infelizmente, sua altura não te ajuda então você tem que usar saltos para
dar uma força, né!
Ah, essa é minha melhor amiga, sempre vendo meus pontos fortes!
- Tá, mas por que tinha que ser agulha e não plataforma?
- Porque agulha é bem mais lindo né!
- Oh meu Deus! – eu disse colocando as mãos no rosto e fingindo espanto –
como não pensei nisso! Quem se importa se meus pés caírem depois dessa
noite não é?
Ela me deu um empurrão e achei que fosse cair ( não consigo me equilibrar
em cima disso!), mas ela mesma me segurou.
- Não sei do que está reclamando! Eu ainda fui gentil e deixei que você
viesse de calça jeans.
- Quanta gentileza de sua parte Lê! Sinto-me lisonjeada!
- Pare com esse sarcasmo! Estou tentando te ajudar!
É mesmo. Uma ajuda que, a propósito, eu nunca pedi.
Tudo isso é culpa do Dave. O novo namorado dela. Ele é muito gente boa, não
me leve a mal, mas graças a ele eu virei uma vela. Daquelas bem grandes!
Então Lê se sentiu culpada e resolveu que hoje ela iria arrumar um namorado
pra mim. Assim, todos nós poderíamos sair juntos! Isso é tão lindo que até
me dá náusea.
Enfim, ela fez aquela cara de cachorro que caiu da mudança, então eu
concordei em deixar ela me arrumar pra festa. Assim, aqui estou eu, com o
rosto entupido de maquiagem, uma blusa com um decote que destaca o busto
que eu não tenho e um sapato com um salto que deve medir o tamanho do
meu antebraço e da finura de um palito de dente (eu estar de pé deve ser
considerado um milagre divino!). O que me consola é minha boa e velha calça
jeans.
Nós duas saímos do metro e estamos caminhando até o local da festa do seilá-
quem. Então chegamos.
Bom, vou pular a parte vergonhosa em que minha melhor amiga tenta me
jogar em cima de mil garotos fedendo a álcool, e o desastre ecológico que
estava o banheiro e, não, eu não me arrisquei a abrir a porta de um dos
quartos.
Ok, voltando ao presente.
Aqui estou eu andando até o metro, sozinha ( eu não vou nem chegar perto
da Lê até essa minha vontade assassina passar, mas eu mandei uma
mensagem pra ela avisando que estou viva e indo para casa... e que vou matála).
Estou com a merda dos sapatos nas mãos e com a jaqueta que eu roubei
de um dos jovens bêbados,( ei, ele disse que eu podia ficar com ela, a culpa
não é minha se ele não estava são) e começou a chover. É claro que começou
a chover. Porque nenhuma desgraça vem sozinha.
Posso sentir toda a maquiagem escorrendo pelo meu rosto, e isso é muito
refrescante.
Mesmo estando um trapo, desço as escadas do metro um tanto contente por
estar indo para casa.
Até que sinto uma pontada de dor na sola do meu pé e solto um grito. E caio
da escada.
Sorte que faltavam só dois degraus.
Sento e vejo o culpado. Um caco de vidro. Oba!
Então eu puxo o caco para fora do meu pé. E dói. E eu xingo alto.
Só ai que eu reparo que tem um cara assistindo a cena toda. Quando
percebe que foi notado ele se abaixa perto de mim e pergunta:
- Você está bem?
Eu olho pra mim mesma. Molhada, borrada e com o pé sangrando.
- Sério que está me perguntando isso?
- Ah, certo. Foi uma pergunta estúpida. Vem, eu te ajudo a levantar.
Eu aceitei a ajuda. Eu não iria a lugar nenhum sozinha.
Então ele me levou até o banheiro (feminino), lavou meu pé e estancou a
ferida. Enquanto fazia isso, reparei, seus olhos verdes estavam muito
concentrados. Mas, não consegui deixar de me admirar com delicadeza,
porém firmeza, com a qual ele fazia tudo. E quando ele rasgou a manga da
camiseta para fazer uma atadura a ficha caiu.
- Você é médico? – ele parecia muito novo para se médico. Parecia ser uns 2
a 3 anos mais velho do eu mesma.
- Pretendo ser. – ele disse sorrindo para mim.
Quando ele terminou, eu agradeci e ele ficou comigo (servindo de apoio) até
o metro chegar. Nós conversamos um pouco e eu descobri que nome dele era
Nicolas. E algumas outras coisas. Tipo, que a faculdade dele é no meu bairro
e que, por um acaso, fica no caminho para a minha loja de quadrinhos e
mangás preferida (sim, tenho 16 anos e leio comics, algum problema?) e que
ele também frequenta essa loja.
Daí, o metro chegou. E nós nos despedimos.
Sentada sozinha com um leve formigamento no pé esquerdo, no meu colo
estava o maldito par de sapatos. Que talvez não fossem tão malditos assim.


sábado, 26 de maio de 2012

Coragem


Naquele momento eu senti que poderia fazer tudo o que eu quisesse. Eu não
hesitarei, farei tudo o que quero fazer. Foi como se houvesse alguém me
empurrando para frente e dizendo no meu ouvido: “Vai! O que está
esperando? Não tem porquê se preocupar, vai dar tudo certo.”
Toda a coragem que eu sempre precisei estava bem ali. E eu me senti
eufórica. Senti vontade de abraçar forte todas as pessoas importantes pra
mim. Senti que precisava gritar pra todos que eu os amava.
E também senti que seria capaz de dizer isso pra você. De finalmente
desfazer o nó colossal que tenho na minha garganta. Naquele momento, se
você estivesse lá, certamente agora o nó já não existiria.
Essa coragem, fez-me querer mostrar para todos a minha verdadeira face,
quero que todos saibam que não sou de ferro, que não sou de gelo, que, na
verdade, sou frágil como vidro e quente como brasa. Eu só construí muros e
barreiras em volta de mim. Não sou equilibrada e mansa como brisa, sou tão
destrutiva quanto um ciclone. O que você vê é a calmaria antes ou depois de
uma tempestade.
Agora estou agarrando essa coragem com toda a minha força. E implorando
que ela permaneça em mim só mais um pouco, só até eu te dizer. Só até eu
desfazer o nó.
Mas dizem que quando você aperta demais, escapole pelo meio dos dedos. E
posso sentir que a coragem está se esvaindo. Por isso, quando você me ver,
as barreiras já vão estar de volta nos seus devidos lugares, eu imagino.
Só que eu quero acreditar que eu ainda tenho uma chance. Espero poder
absorver um pouquinho dessa coragem. Para poder criar uma porta em meus
muros, mesmo que seja temporária. Assim poderei abri-las para as pessoas
certas por tempo suficiente para que da próxima vez, essas pessoas certas
sejam capazes de pular meus muros.
Sei que parece loucura, mas é o que eu quero fazer.
E quer saber? Que se dane se der uma grande merda depois! Se for para
sofrer as conseqüências, que seja por algo que eu fiz e não por aquilo que
deixei de fazer.
Então, por favor, minha sanidade, vá tirar umas férias! E deixe a coragem no
comando.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Jogo


- Morre, morre, morre, morreeeee!!!!! AH VADIA!!!!
- Você não achou que isso iria me deter, achou?
Mesmo sem ver seu rosto eu podia imaginar as caretas que ele estava
fazendo. Sobrancelhas franzidas e lábios rijos.
- Como você ficou tão boa de repente?
- Tudo é questão de motivação.
- Ah é? E qual foi a sua? Ver meu corpo dilacerado?
- Claro que não! Sangue, querido, eu quero ver seu sangue. Poças dele.
Então dei a minha melhor risada maléfica. Porém, baixei minha guarda. E
paguei muito caro por isso.
O desgraçado enfiou uma lança em mim. E tive que aguentar seu deboche.
- De quem é o sangue agora?
- Não conte com os ovos na barriga da galinha, amor.
Meus olhos e minhas mãos já estão doendo. Hora de acabar com isso.
Descruzo as pernas e fico de joelhos.
- Ei, você está minha frente, isso é roubo.
- ESPECIAL!!!!!
De repente, antes que eu pudesse terminar a combinação de botões ele me
agarra por trás e nós dois caímos deitados no tapete.
- NÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOO!!!!!!!
Eu me debato e esperneio até que ele me solta e então começo minha
sucessão de socos e chutes enquanto ele ri e tenta se proteger.
- Seu tosco, idiota! Eu ia conseguir!!! Eu ia te matar!!!
- Ninguém mandou você entrar na minha frente!
Então eu faço beicinho e ambos olhamos para a televisão, para ver dois
personagens ainda em posição de luta, mas quase sem vida.
Como num estalo, nós dois nos esticamos para agarrar o próprio controle e
nos empurramos, rolamos e lutamos apertando botões aleatórios, sem nem
ver. Até que vejo um “YOU WIN” na tela. E que estava atrás das palavras
era... EU!!!
- AHHHH!! Eu te matei!!! Ganhei!!!
Ele continuou em silêncio.
Então percebi o por que. Estava eu deitada em cima dele. Nossos rostos
estavam muito, muito perto. Ele sequer podia se mover. Não tinha reparado pois estava focada na televisão.
Por um momento ficamos estáticos.
De repente a música tema do jogo começou a tocar e toda a tensão do momento passou. Em seguida, sem mais nem menos sofremos um intenso ataque de riso mútuo.
Como fomos acabar daquele jeito?
Quando tudo passou, eu encostei minha cabeça em seu peito e ficamos
desse jeito por muito tempo.
Até que eu me senti constrangida e me sentei depressa, talvez depressa
demais.
Ele se sentou e começou a bagunçar o cabelo. Então, com um sorriso torto,
disse:
- Quer jogar de novo?
- Quero! – sorri e ergui os braços, hesitei por um instante, mas o que eu tinha
perder? Juntei os punhos perto do peito. – Preparado?
Ele me olhou espantado.
- O que está fazendo?
-FIGHT!
E o abracei o mais forte que eu pude.
Durante alguns segundos, que pareceram um milênio ele ficou totalmente paralisado. Eu já estava pronta para realmente dar um golpe de luta nele, na esperança de amenizar os estragos quando inesperadamente, ele me abraçou de volta e sussurrou no meu ouvido:
- Acho que fui completamente derrotado. Vamos jogar uma aventura agora?


terça-feira, 22 de maio de 2012

Retas Paralelas


Nós sempre fomos assim, como linhas paralelas. Seguindo em frente, perto
um do outro, sem nunca nos encontrarmos. Ponto por ponto, assim se forma
uma reta. Passo a passo. Então pensei que se eu, sem querer, desse o ponto
um pouquinho para o lado, afinal eu nunca fui boa com gráficos...
Assim, a reta acabaria virando uma curva e acabaria esbarrando na sua reta.
E causaria uma bagunça, misturando seus pontos, seus passos, com os meus.
Talvez isso acabasse se desenrolando e nossas retas seguiriam paralelas
novamente, mas talvez, só talvez, nossas coordenadas se igualassem e dái,
nossos gráficos seguiriam juntos. Com curvas, retas, voltas, qualquer coisa,
menos paralelas.
Porque é horrível estar tão perto, lado a lado, seguindo juntos sem se
encontrar.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Lutadora


Me pergunto por que ainda não desisti. Seria muito mais fácil e simples.
Afinal, eu sei, todos sabem, é uma causa perdida. Porém ninguém deixa de
dar-me esperanças, pois têm pena. Medo de me despedaçar. Aprecio isso.
Uma boa lutadora sempre precisa de sua torcida.
Não existe motivo para continuar a lutar, mas não consigo parar de lutar.
Mesmo estando em frangalhos, nunca deixei o campo de batalha. Será
instinto? Será estupidez?
Creio que seja a segunda opção.
Estúpida e teimosa. Não é uma boa combinação.
Lutar.
Para perder.
Que situação patética.
Vê? Sei que minha situação é sem salvação.
Já disse inúmeras vezes: Chega. Eu desisto!
O problema é que nunca me escuto. Ou me esqueço do que disse.
Surda e com memória fraca. Coisa boa não vai dar.
Também pensei em fugir, mas... Não deu muito certo. Porque eu não consigo
fugir de uma boa luta.
No momento, minha derrota está clara, mas se continuar lutando e lutando,
nunca terminará. Então nunca perderei.

Ou talvez, quem sabe, eu vire esse jogo...



quarta-feira, 18 de abril de 2012

Sincero ao Extremo


- Está atrasada. – foi o que ele disse quando virei a esquina e cheguei na
minúscula praça onde sempre nos encontrávamos, com cara de bravo.
- O que? Virou inglês agora? – parei a frente dele e me apoiei nos joelhos.
- Não. Só acho educado as pessoas marcarem um horário e não chegarem
com uma hora de atraso. – então ele sentou no bando e cruzou os braços,
ainda com as sobrancelhas franzidas.
- Eu tive os meus motivos, ok? E também, aposto que você estava fazendo
fotossíntese em casa! – me sentei ao seu lado tentando tirar aquela
carranca do seu rosto.
- Claro que estava! Afinal eu não sou lá muito sociável. Então o acha que eu
faço num sábado a noite? Nada!!! – disse isso sem um pingo de vergonha na
cara. Sinceridade. Sempre.
- Desculpe. – eu disse estupidamente triste comigo mesma. Então deixei
pender o pescoço para trás e fiquei observando o céu estrelado.
- Por que não atendeu o celular? – droga! Achei que ele não ia perguntar.
- Eu... meio que... esqueci ele em casa.
De repente ele me deu um peteleco na testa e reclamou:
- Que tipo de criatura estúpida, de ameba sem cérebro... Sai de casa no
meio da noite e NÃO LEVA O CELULAR???
Com raiva eu ergui a cabeça para olhar para ele e responder aos insultos
com outros ainda melhores então... dei uma cabeçada nele.
Minha reação foi colocar as mãos na testa e vi que ele fez o mesmo. Quando
olhamos um para o outro ambos estavam com olhos cheios de lágrimas,
tamanha a intensidade da dor.
Pela primeira vez na noite rindo, ele disse:
- Não sabia que amebas tinham a cabeça tão dura. – como reação eu
empurrei seu ombro fazendo-o quase cair.
Ambos começamos a rir um do outro. Até que paramos e tudo ficou em
silêncio.
- Não faça mais isso. – ele sussurrou olhando para o outro lado.
- O que? Bater na sua cabeça? – eu disse rindo.
- Não... Não suma assim no meio da noite.
Eu me levantei e fiquei de frente para ele. Acho que vou dar o troco pelos
insultos agora.
- Você estava preocupado não estava?
- Não! – ele disse ligeiro, ao mesmo tempo em que virava o rosto.
Encurralado.
- Sabe, além de você mentir extremamente mal, suas orelhas estão
vermelhas.
- Ah... Eu... – e ele começou a passar a mão nos cabelos, como sempre faz
quando está confuso.
Eu sorri. É bom saber que não sou a única nessa barca.
Reuni todo a minha coragem, e me sentei bem perto dele.
Mãos suadas: Confere.
Coração Acelerado: Confere.
Estômago revirado: Confere.
- Então... Por que me chamou aqui? – ele parecia normal agora. Talvez eu
esteja errada. Talvez seja mesmo unilateral.
Porém, não dá pra voltar atrás agora.
- Eu... Você... – ele estava olhando tanto pra mim! – Feche os olhos!
- Que???
- Feche de uma vez!!
Então ele fez uma careta e obedeceu.
Segurei as suas mãos para tentar ganhar mais coragem.
- Você não vai fazer nenhuma macumba, vai?
- Cale a boca!
- Não era pra eu fechar os olhos?
- FAÇA OS DOIS!!!
Ele deu uma gargalhada e, de olhos fechados, se calou.
Fechei meus olhos e pronunciei, sem emitir som algum: “Sou apaixonada por
você, idiota.”
- Ei! Eu não sou idiota!
Dei um pulo pra trás e coloquei as mãos na boca. E AGORA???
- Vo-você espiou!!!!
- Desculpe, homens não conseguem fazer duas coisas ao mesmo tempo. A
ciência já provou!
Quero um buraco negro. Agora.
Me levantei depressa e fui praticamente correndo pra longe dele. Até que
ele gritou:
- Não quer saber minha resposta?
- Promete que não vai mentir?
- Sinceridade. Sempre. – Ele disse com a mão direita erguida, como num
juramento.
- Então... pode dizer.
- Eu não estou apaixonado por você.
A estaca que perfurou meu coração provocou tanta dor que pensei que meus
joelhos fossem ceder e podia sentir as primeiras lágrimas correndo pelo
meu rosto. Mas foi o que eu pedi. Sinceridade. Sempre.
- Obrigada pela verdade. – já do outro lado da rua eu disse.
Só para depois ouvi-lo berrar para todo o bairro:
- NA VERDADE, EU TE AMO!!!
Então meus joelhos cederam e eu não conseguia mais enxergar de tantas
lágrimas. No entanto, não conseguia parar de sorrir. Enquanto isso ele
tentava parar meu choro e ria pra mim.
Eu devia saber. Afinal, ele sempre foi sincero. Sincero ao extremo.



segunda-feira, 2 de abril de 2012

A Fera


Eu nunca tive a intenção de continuar com isso, nunca quis alimentar essa
coisa doentia, pensei que se a ignorasse ela iria desaparecer. O que não
percebi foi que não dependia de mim. A sobrevivência “daquilo” nunca
dependeu de mim. Foi sempre de você.
Sua presença foi alimentando a Fera, fazendo-a mais forte e resistente até
que, sem perceber, eu estava sendo controlada por ela.
Comecei a procurar por você e esperar por você e a Fera ficou tão forte
que bastava uma menção a você e ela se agitava dentro de mim, ameaçando
rasgar meu peito e bagunçando meu estomago.
Eu juro que tentei lutar contra, mas quanto mais longe de você mais irritada
ela ficava e isso me causava dor, uma dor sufocante que nada fazia passar,
então fui obrigada a ceder.
Hoje sou completamente submissa a fera que vive dentro de mim, a que você
fez nascer e crescer. Admito que já me acostumei a ter essa “coisa” dentro
de mim. Às vezes dói um pouco, quando ela quer mais do que pode ter. Porém
eu aprendi a acalmá-la.
Só te peço que não vá, só peço que continue perto, para que ela não se irrite,
pois se você não estiver perto de mim, se ela não puder estar perto de você,
eu serei inútil. E por ser um mostro, ela vai matar.



A propósito, descobri que ela tem um nome. Amor.


segunda-feira, 26 de março de 2012

Balanço


Estou balançando. Empurrando meu corpo para trás e para frente,
escutando o ranger das correntes enferrujadas. O parquinho está vazio.
Somente eu e os deprimentes brinquedos velhos. Um lugar para crianças não
devia parecer tão sem vida, nunca.
Bem, ele não era.
Estou cansada. Cansada de forçar-me para frente e depois para trás, para
tentar ir mais alto. Então apenas paro e deixo-me balançar pelos meus
esforços passados. Não penso em nada. Só ouço o barulho das correntes,
para trás e para frente...
De repente algo empurra minhas costas para frente e abro meus olhos,
alarmada.
- Vamos garota, fique de pé aí em cima! Vamos ver se você não perdeu o
jeito. Pelo que me lembro, você pulava bem longe! – nem precisei olhar, era
voz do meu pai. Ele sempre gostou de me balançar, bem, bem alto. Mesmo
que isso deixasse a mamãe louca de preocupação.
- Pai, acho que já fiquei velha para essas coisas... – Foi o que eu disse, mas
já tentava me manter equilibrada de pé no assento que subia e descia.
- Ixiiiii papai!!!! Aposto que ela vai cair como um jaca! – era o pentelho do
meu irmão caçula gritando do escorregador.
- Pois é, se fosse você não faria isso, nunca vai conseguir bater meu
recorde!! – Foi a irmã do meio, que tinha acabado de pular do balanço ao lado
e estava marcando a uma linha onde tinha pousado.
É claro que eu conseguiria pular mais longe que aquilo!
- Então querida? Aceita o desafio? – era papai, ainda me empurrando mais e
mais alto.
Antes que pudesse responder escutei minha mãe:
- Querido! O que está fazendo?! Amy, dessa daí, isso é um perigo! – ela
vinha correndo com as sobrancelhas franzidas.
- Você ouviu sua mãe Amy! Dessa daí! – papai disse, posso ter certeza, com
um sorriso travesso nos rosto.
E os meus irmãos riam e gritavam para mim pular, e eu ria também.
- Não, não foi isso que eu quis... ah! Desisto! – e mamãe parou com as mãos
na cintura contendo o riso.
- Ok, já está alto o suficiente. Pronta? – E então meu pai foi se juntar ao
resto da família no suposto lugar onde eu deveria parar.
Todos estavam sorrindo para mim. E lá em cima, com o sol aquecendo meu
rosto, eu me sentia em paz.
Então eu pulei.
E toda aquela paz se foi, pois enquanto caía um desespero me invadiu. E
várias perguntas cruzaram minha mente naqueles segundos.
Por que eu pulei?
Por que eu me machuquei?
Por que começou a chover?
Por que todos vocês foram me levar para o hospital? Por que não chamar
uma ambulância?
Por que não deixaram os mais novos com alguém?
Por que não deixaram para o dia seguinte?
Por que raios a estrada tinha que estar uma merda e por que estava
chovendo como se não houvesse amanhã?
E por que, eu me pergunto, por que vocês me deixaram aqui?
Eu não quero se abandonada.
Ei, pai, quem vai me empurrar agora?
Meus pés encostam o chão, e estou sentada no balanço, que finalmente
parou. Sem o barulho das correntes, o silêncio parece inquebrável.



domingo, 11 de março de 2012

Árvores


O sol está se pondo. E fico admirada em como os últimos raios do dia ficam
perfeitos entre as folhas das árvores. Fingindo não ter mais o que fazer,
sento-me na grama e me concentro na imagem a minha frente.
É como se o sol tentasse absorver à árvore, tentando levá-la com ele. Mas
esta é resistente demais. Presa fortemente a chão, incapaz de se deixar
levar pelo calor. Deve ser ainda mais magnífica a noite.
De repente, tudo fica escuro, ou nem tanto. Porque ainda vejo luz nos
espaços entre os dedos que cobrem meus olhos.
- O que você quer Tom? – Sempre sei quando é ele, sempre.
- Como sabia que era eu? – Dizendo isso ele tirou as mãos do meu rosto e
ficou em pé na minha frente.
O mesmo jeans e tênis desbotado com a sua melhor camisa com manchada
de alguma substância desconhecida. O mesmo rosto travesso daquele menino
de 10 anos, com seus olhos negros astutos e cabelos desgrenhados de
mesma cor. Alguns diriam que ele é desleixado. Bom, não pra mim.
- OOOOLÁÁÁÁÁ???? Kim? Ainda está entre nós? – e lá estava eu vagando
de novo, mas ele me acordou com um peteleco na testa.
- Ai! Isso dói!
- É, mas trouxe você de volta. Não sei como consegue se perder tão fácil na
sua própria cabeça.
- Há-há. O que quer?
- Nada. Só queria achar você.
- Ok. Missão cumprida. E agora?
Ele olhou ao redor e então pegou meu pulso e me fez levantar me puxando
até o tronco de uma das árvores.
- Acho que foi nessa aqui... Aha!
Eu sabia o que ele tinha achado mesmo sem olhar.
Em um pedaço do tronco grosso, quase ilegível:
Tom X Kim
- Você lembra-se do dia que a gente fez isso? Faz uns... 6 anos né? Dissemos
que seriamos parceiros, sempre ajudando um ao outro e você disse que
nunca na vida ia encontrar um parceiro melhor do que este que vos fala!
- Não me lembro dessa última parte...
- Pois então você tem problemas de memória, querida.
- Ou você tem problemas com sua imaginação... – e então empurrei seu
ombro de leve, e ele repetiu o gesto.
Ficamos em silêncio por um tempo até que eu encostei meus dedos nas
palavras gravadas na árvore. Perdida nas minhas lembranças daquele dia,
quando eu era uma menininha de 10 anos. Tentando imaginar quando foi que,
durante esses seis anos, as coisas mudaram.
- Kim, nós ainda somos parceiros, não somos?- ao dizer isso ele parecia
tentar convencer a si mesmo.
- Claro que somos. – disse tentando parecer firme.
- Então você não mentiria pra mim, não é?
- Jamais, parceiro.
Então ele olhou pra cima e disse:
- Então, você é afim do meu irmão?
Ao ouvir isso, dei um passo pra trás e me engasguei, sabe-se-lá com o que.
- Por que isso agora?
- Fiquei curioso, só isso.
Ainda um pouco chocada com a pergunta, tento pensar no senti pelo mais
velho dos dois irmão Lasiter há muito tempo. A lembrança me faz sorrir e
percebo que não há problema nenhum em dizer a verdade.
- Se quer mesmo saber, sim eu já tive uma quedinha pelo mais velho dos
Lasiter. Mas eu tinha 10 anos, passou.
- Ah, que bom!
E de repente ele ficou imóvel, como se tivesse feito algo que não devia.
Interessante.
- Por que isso é bom?
Então ele começa a coçar a cabeça e olhar inquieto para os lados, como se
procurasse uma saída.
Eu, fiquei encarando-o quieta. E por me conhecer muito bem, ele sabia que a
única opção era a verdade.
- É que... Ah...que eu soube que tem um cara por ai que está de quatro por
você. – dito isso ele olhou pra mim, com um meio sorriso sem graça no rosto.
Fui obrigada a sorrir. Ambos sabíamos que não importa o que ele dissesse, já
era tarde. Está tudo escrito no rosto dele. Em letras grandes e vermelhas.
Ele nunca foi bom em esconder as emoções como eu.
Saindo do meu devaneio, vejo que ele está olhando para o chão chutando a
grama.
Então eu virei às costas e fui andando, pude ouvir ele tentar dizer alguma
coisa, mas resolvi me adiantar. Parei, porém não ousei olhar para trás.
Respirei fundo e disse:
- Ei parceiro! Diga pra esse cara que ele está sem sorte, porque no final das
contas eu ainda estou apaixonada por um Lasiter.
E sai correndo para o meio das árvores.


domingo, 19 de fevereiro de 2012

Efeitos Colaterais de VOCÊ


A verdade é que quando te vi hoje, meu coração deu um salto. E
automaticamente desviei meus olhos e fingi não saber que você estava ali.
Todas as vezes que vi, de esguelha, você olhando na minha direção, disse a
mim mesma: “Erga a cabeça, olhe pra cima, o faça notar você, ande!”
Porém é claro que não o fiz.
Afundei dentro de mim mesma o impulso de segurar a manga da sua camisa e
fazê-lo virar pra trás.
O mais estranho é que, por mais nervosa que fique na sua presença, sempre,
sempre e sempre tenho que engolir o sorriso que teima em vir ao meu rosto.
Um sorriso bobo e tímido. De fato, um sorriso apaixonado.
E depois que você desaparece, posso deixá-lo sair. Por isso que, às vezes,
começo a sorrir sem ter motivo.
Quando me pega de surpresa, fico hipnotizada, por meros segundos, fico
sem me mexer. Até que lembro a mim mesma que tenho que respirar.
Não consigo sequer andar normalmente perto de você! Eu coro toda santa
vez que sinto seus olhos em mim, meu estômago dá mortais quando você está
perto.
E meu coração? Há! Pobre dele!
Agora, me pego pensando, quanto tempo conseguirei me segurar? Até
quando vou suportar?
Tenho medo de acabar explodindo.
O fato é que você causa blackout no meu cérebro. E meu coração eu já perdi
pra você faz tempo.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Nós Dois


- Belo jogo, Sr. Capitão do Time.
E então eu joguei uma toalha em cima dele que, diga-se de passagem, estava
completamente encharcado de suor.
- Obrigada, Sra. Namorada do Capitão.
- E aquele seu gol foi dedicado a quem mesmo?
- A minha Amante nº 2, é claro. Apesar de achar que a nº3 merecia um
também.
- Há-há-há. Que piadinha engraçada.
- Quem disse que é piada? – e, apesar de tentar ficar sério, ele não
conseguiu evitar aquele sorriso brincalhão.
- Anda vai logo tomar banho, pra nós podermos ir.
- Ei, eu não ganho nada? – E ele me puxou pelo braço pra bem perto.
Então eu coloquei minhas mãos no seu rosto, encostei minha testa na dele e
disse:
- Peça a Amante nº2! – e dei um tapinha de leve no seu rosto, fingindo estar
brava – Está de castigo. Já pro banho mocinho! – dizendo isso coloquei
minhas mãos na cintura e apontei para o vestiário.
E, fazendo cara de coitado foi, mas antes de sumir da minha vista, disse:
- Você vai me esperar, não vai?
- Vou pensar no seu caso! – E virei as costas pra ele.
________________________________________________________
Será que ela levou aquela brincadeira a sério?
Nunca sei o se passa na cabeça dela. E isso me irrita. Mas eu gosto disso nela. Sempre me
desafiando a testar os limites, apesar de ser ariscado, sempre vale à pena.
Só espero não ter cruzado a linha dessa vez, sempre que cruzo a linha é um
desastre.
Devo ser um maluco por gostar de estar nesse relacionamento,
devo ser um maluco por ter me apaixonado por uma garota-paradoxo.

Estou vendo-a, está sentada em um banco de costas pra mim. E quando
chego mais perto, vejo que está com a cabeça apoiada na mão e o cotovelo
apoiado no colo.
Dormindo.
Eu demorei tanto assim?
Sento-me ao seu lado.
Como alguém consegue dormir desse jeito?
Se ganhasse o jogo, apostei com ela que tinha que dizer alguma coisa melosa,
pra depois ele debochar de mim. Ela está dormindo agora, a culpa não é
minha se ela não ouvir, então...
- Eu não dediquei aquele gol pra você, eu joguei todo aquele jogo por você.
Apoio as costas no banco e olho pra cima.
Ótimo, me livrei dessa.
- Nada mal, Sr. Capitão. Quase, mas quase mesmo, vomitei arco-íris.
Quando olho, lá está ela sentada de lado olhando pra mim. E rindo.
- Ei! Isso não vale! Fingir que estava dormindo! Foi roubo!
- Nada disso, você que queria roubar pagando a aposta enquanto eu fingia
dormir!
- Rá! Então você estava mesmo fingindo!
- Estando ou não, você disse e eu repito: - então ela limpou a garganta e faz
a pior imitação da minha voz possível – “Eu não dediquei aquele gol pra você,
eu joguei todo aquele jogo por você.” Que gracinha!
- Ah.. Eu...
- Está vermelhinho!
E ela ria e, apesar de estar envergonhado, não era ruim.
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Simplesmente amo deixá-lo envergonhado. É fofo demais.
Mas as vezes acho que sou malvada demais com ele. Que forço demais. Que sou
fria demais.
Apesar de estar apaixonada, finjo não estar. Na maior parte do
tempo pelo menos.
Bom, hoje ele merece uma colher de chá.
Levanto e o puxo comigo. Encosto minha cabeça no seu ombro e entrelaço
nossas mãos.
- Muito bem, minha vez de ser a boba apaixonada. Está com sorte hoje
Romeu. Serei uma Julieta boazinha.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Está Tudo Bem?


Quando as pessoas me perguntam se está tudo bem eu sempre sorrio e digo
que tudo está bem, mesmo que meu coração esteja quebrado, mesmo que eu
sinta que vou cair, mesmo que eu tenha vontade de chorar, mesmo que eu
esteja morta por dentro. Sempre irei responder: “está tudo bem” e quem
sabe um dia alguém verá um lampejo de tristeza passar pelos meus olhos e,
olhando bem firme pra mim irá perguntar:
- Está mesmo, tudo bem?
E se não estiver, dessa vez, tenho certeza que o meu sorriso irá se
desfazer e lágrimas, devagarzinho, tomarão o seu lugar. E, se essa pessoa
tiver coragem, ela tentará pará-las ou então enxugá-las. E eu serei
eternamente grata, por ela ter REALMENTE perguntado “está tudo bem?” e
estar interessado na resposta. Por ter visto aquilo que tentei tornar
invisível aos olhos de todos.
Porém, o que mais temo é que as pessoas vejam o que tento esconder atrás
do meu sorriso, mas tem medo de perguntar de novo. Tem medo da minha
resposta.
Entretanto, não as culpo.
Só gostaria que, antes de fazer uma pergunta, pensassem muito bem,
porque a resposta nem sempre é agradável.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Presente


Nós estamos parados, perto da sorveteria. E eu não acredito no que ele
disse, e apesar de estar feliz, tento parecer brava.
- Eu pensei que tinha dito que não queria nada.
- É você disse mesmo, mas eu não estou nem aí. Eu quero te dar um presente.
Ele está com as mãos nos bolsos da calça e usando aquele All Stars que eu
dei a ele séculos atrás. Já está gasto e desbotado e eu já mandei jogar fora,
mas ele se recusa.
Isso meio que me deixa feliz.
- Então, já escolheu?
Eu suspiro, fecho os olhos e depois abro um e olho pra ele.
- Você não vai desistir vai?
- Não. – e então ele dá um sorriso torto. O sorriso que eu conheço e amo a
tanto tempo.
Depois dessa afirmação, começamos a andar e conversar sobre coisas
aleatórias, rindo e caçoando secretamente das pessoas que passavam. E,
admito, não estava prestando nenhuma atenção nas vitrines, tinha esquecido
completamente o propósito daquela caminhada. Por isso ele me pegou de
surpresa quando perguntou:
- E então, viu alguma coisa interessante?
- Ah... Eu... – Droga! Nem me lembro em que lojas nós passamos! Pense! –
Hem, por que não comprou o meu presente você mesmo como sempre? Seus
presentes são sempre ótimos!
Agora foi a vez dele de gaguejar. Foi uma série de “ahs”, “bons” e “É que”
até que ele virou de costas pra mim e sussurrou alguma coisa.
- O que disse? – e eu me desloquei pra frente dele de novo.
Ele estava um pouco vermelho e começou a coçar a cabeça e olhar pra todos
os lados, menos pra mim. Aquilo era um tanto fofo.
- Responda a pergunta! – e eu segurei a rosto dele com as mãos o fazendoele
olhar pra mim. E sorri.
Isso pareceu acalmá-lo. Então ele ergueu as mãos pro alto e depois os
colocou atrás da cabeça e olhou pra cima.
- Tá legal, você me pegou! Eu só queria uma desculpa pra poder sair com
você sem que parecesse... Sabe, pra que não ficasse nervoso e suando como
porco e não falando nada direito e...
- E ficar do jeito que está agora?
- É, acho que meu plano não deu muito certo. E eu acabei de estragar tudo
não foi? Quer dizer, não dá mais pra fingir que é só amizade agora.
Se ele não estivesse tão envergonhado e olhasse pra mim, veria que eu
estou mordendo o lábio e tentando não chorar. Então viro as costas pra ele,
não consigo olhar pra ele ainda.
- Sabe, eu vi uma coisa que eu gostei de verdade, lá perto da sorveteria.
Posso sentir ele finalmente olhando pra mim e depois de um tempo, ele
finalmente diz:
- Ótimo, vamos lá então.
Ando o caminho todo um pouco a frente dele, nós dois em silêncio.
Quando chegamos no lugar exato onde começamos eu paro e espero ele
ficar ao meu lado. Olho de esguelha pra ele, mas ele está olhando pra frente,
então diz, tentando parecer alegre:
- E então onde está a coisa que você gostou?
- Olha, se tivesse se dado ao trabalho de olhar pra droga da minha cara
certamente já saberia o que é! Porque o caminho todo de volta pra cá eu não
consegui tirar esse sorriso idiota da minha cara, estúpido! – então ele se
virou pra mim com uma cara muito estranha, como se não acreditasse – Aqui,
é isso que eu quero.
E eu segurei a mão dele.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Bote Salva-Vidas


Estou afundando. Porém, não lenta e suavemente. Estou afundado como se
houvesse uma âncora amarrada ao meu tornozelo. O ar vai escapando dos
meus pulmões mais rápido do que a luz dos meus olhos.
Ar,ar, busco desesperadamente e, num ato impensado, solto minha
respiração. Então meus pulmões, antes vazios, agora estão cheios de água. E
tudo vejo, é escuridão.
Será que ainda estou consciente? Será que estou sonhando?
Ouço alguém chamando meu nome, estou morta?
Impossível, se estivesse não estaria sentindo dor ou frio.
Quando abro os olhos há um rosto na minha frente, um rosto preocupado,
mas não quero saber que é.
Meus pulmões estão cheios de ar, mas ainda sinto dor. E, mesmo sem
espelho, sei que não há luz nos meus olhos.
Percebo que estou sentada numa cadeira, abraçada aos meus joelhos e o sol
brilha lindamente no céu, como se tudo fosse belo.
E então o brilho diminui e estou sendo puxada de novo, me falta ar...
Aquele rosto continua olhando pra mim e falando coisas, mas não quero ouvir.
Ora veja só, mais uma vez estava eu me afogando nas minhas próprias
lágrimas puxada pra baixo pelas minhas tristezas.
Olho para a pessoa ao meu lado, e tento sorrir, mas sei que estou chorando
porque ela apertou minha mão e seu rosto continua franzido.
Queria poder agradecê-la, acho que foi ela que impediu que eu me afogasse,
mas as palavras não saem.
Então eu só a abraço bem forte e prometo a mim mesma que não irei soltar.
Não irei largar meu bote salva-vidas, não até chegarmos a terra.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Acostumar


Eu acabei me acostumando a você. Sua voz, seu sorriso, seu cheiro.
Nossas conversas, nossos risos, nossas brincadeiras. Acostumei-me com
essa maldita primeira pessoa do plural.
No começo, ficar sem você não fazia falta. Mas você não se afastou, ao
contrário de todos, você permaneceu. Porém, não pra sempre.
Na verdade, você foi o mais cruel de todos.
Você esperou, esperou e eu, tola, baixei a guarda.
Agora me pergunto: Você planejou tudo isso?
O que antes me trazia felicidade, agora me dilacera.
Quando tento lembrar é triste. Porque eu não me esqueci. Eu não me esqueci
de nada.
Até mesmo do fim, quando eu esperava suas atitudes costumeiras e elas não
aconteciam.
Eu sei que pode parecer que é puro comodismo. Que, na verdade, eu nunca
senti nada. Mas o fato é que, eu não gosto da palavra “gostar” afinal, é algo
muito subjetivo não acha? Parece uma coisa que acontece de uma hora pra
outra e assim acaba.
Uso “acostumar” porque é um processo lento, acontece por fases. É difícil,
mas no final acaba tudo se acertando, nem sempre pra melhor, mas se
acertando.
Eu havia me acostumado a você. A nós. E me pergunto quanto tempo vai levar
para que eu me acostume de novo com o “eu”.
O que me deixa esperançosa é que, quando se trata de acostumar, tudo se
acerta no final, nem sempre pra melhor, mas se acerta.


quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A estante mais alta


AH! Como eu odeio essas estantes! Por que os livros que eu quero sempre
tem que estar tão altos? E não tem sequer um banco ou escada nessa
biblioteca cheirando a mofo!
Que fim esses pobres livros levaram.
Em me ergo o máximo que posso, nas pontas dos meus tênis e estico o meu
braço, mas só minhas unhas roçam as lombadas gastas.
Eu tento alcançar dando pulinhos, porém é inútil. E penso que a cena deve
ter sido ridiculamente engraçada.
De repente, o cheiro de mofo fica mais fraco e começo a sentir um cheiro...
não sei...bom.
Me viro para procurar o responsável por aquele milagre e bato de cara com
uma camisa preta. Tentando me afastar, bato a nuca na estante e livros
caem sobre mim. E eu finalmente caio sentada.
- Ei, você está bem? – diz uma voz masculina, deve ser o senhor-camisapreta.
Quando abro os olhos ele está abaixado na minha frente, e percebo que seus
jeans são rasgados.
- Ei, está me ouvindo? – dizendo isso, ele colocou a mão no meu rosto,sua
mão era grande e quente, mas gentil. E eu senti que estava ficando vermelha.
Como reflexo, tentei me afastar dele e bati, pela segundo vez, minha nuca
na estante e mais uma vez, livros caíram.
- Ai! Droga! De novo?!
Então eu pude ouvir sua risada.
- Parece que você arranjou um jeito de pegar os livros altos, hem?
- É, só não é um jeito saudável. – e enquanto falava esfregava minha cabeça.
- Desculpe, a culpa foi minha. Quando fui pegar o livro pra você acabei te
assustando.
Foi ai que ergui minha cabeça. E a primeira coisa que reparei foi que ele
tinha um piercing no lábio inferior e que seus olhos eram negros, pareciam
até sem fundo.
- Ah... É... Tá tudo bem. – o cheiro, é dele.
- Era esse livro que você queria certo? – eu olhei para suas mãos, que
continham o livro que eu estava tentando pegar.
Então eu estiquei o braço e segurei o livro e puxei, mas ele não soltou.
- Ah, era esse sim, obrigada.
- Na verdade, eu também queria esse livro pra estudar. Você iria levá-lo pra
casa?
- Não, eu ia estudar aqui.
- Então nós não poderíamos estudar juntos?
Duvido que eu vá conseguir estudar alguma coisa com você perto de mim.
- Claro. Tudo bem.
- A propósito, sou Greg. E você? – e então ele esticou a mão pra me ajudar a
levantar.
- Nadia. – E quando segurei aquela mão quente, pensei que fosse derreter.
Depois disso, arrumamos a bagunça que eu fiz e passamos a tarde toda
estudando e conversando. Quanto mais o céu ia escurecendo, mais eu rezava
pra que ele fosse mais devagar.
Apesar da aparência, Greg era gentil e educado, e muito engraçado.
Quando o sol se pôs, eu relutantemente levantei e disse que iria embora.
- Espera, eu te acompanho. – Quando ele disse isso, em meio aos seus
cabelos, pude ver suas orelhas ficarem vermelhas – Quer dizer... Não é
seguro uma garota andando a noite sozinha.
- Adoraria companhia. – e essas palavras foram recompensadas com o
sorriso mais lindo que já vi, e o piercing dava um charme. – Você poderia
colocar o livro na estante? Amanhã eu voltarei pra estudar mais. Colocar em
uma estante mais baixa seria bom.
- Tudo bem.
Enquanto me dirigia para a saída, pude ver. Ele colocou o livro na estante
mais alta.
Após guardar o livro, ele olhou na minha direção, e percebeu que eu havia
visto.
Mesmo de longe, pude ver ele corar, então ele veio andando com as mãos nos
bolsos, ele e seu cheiro bom.
Então ele me alcançou, e nós fomos caminhando em silêncio. Até que ele
disse:
- Você não está pensando em ir com um sapato alto amanhã, está?